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REPORTAGEM



               ‘ALFAIA’ – INÍCIO DE TUDO                              1986 – PRIMEIRO ‘MIGAITAS’
               Anos 80. A noite era uma pasmaceira: “havia gente, mas não tínhamos para   É em Palmeira que abre o primeiro espaço Migaitas (1986). Uma casa anti-
               onde ir à noite ‘botar um copo’ com uns amigos. Era uma cidade sem vida,   ga, rural, que ficou decorada com brio. O nome é assim explicado: “ganhei
               triste”.                                               esta alcunha porque chamavam-me Mingos. Depois havia um jogador do
                                                                      Vitória de Setúbal com o nome Migalhas que teve um problema num joelho
               Inspirado pelo que viu na cidade espanhola de Torremolinos, com um gru-  tal como eu tive quando jogava no Maximinense. E ficou Migaitas (risos)”.
               po de amigos, cria o Alfaia (1983): “foi um sucesso total, estava perto da
               Universidade do Minho, mas havia um problema: só podíamos praticar pre-  Dois anos depois já era dono do ‘Moinho Verde’ em Soutelo (Vila Verde).
               ços de café”. Deixa este investimento e ergue o mítico John Lennon (1984),   Em 1990, compra “uns moinhos, uma azenha e a casa de um moleiro em
               perto da Rua do Raio, com música ao vivo, “onde tocaram nomes como Luís   Águas Santas (Rio Caldo)”. Nasce o Migaitices: “foi das casas que mais
               Represas, Sérgio Godinho e Jorge Palma”. É neste tempo que deixa de acu-  gostei. Um local pequeno, mas muito acolhedor. Dava para conversar. Foi
               mular o trabalho com a companhia de seguros. Uma decisão que provocou   na altura que abriu o D. Chica”.
               rutura com a mãe: “deixou-me de falar. Não compreendeu porque abando-
               nava um emprego estável e ia para a noite”.            De investimento em investimento, abre a cortina ao Gaitas Bar (1991) na
                                                                      Ponte do Bico. Um lugar com piscina e glamour. Nomes como José Mário
                                                                      Branco e Jorge Palma esgotavam, bem como orquestras espanholas de
                                                                      boa qualidade. Por essa era, ouviam-se outros nomes como o ‘Pacha’, ‘Club
                                                                      84’ e ‘Indústria’. A concorrência e a saturação da vida que tinha levou-o a
                                                                      inverter a marcha.
                                                                      CUBA – 1994 A 2000
               Quando pisou Torremolinos (…) observou a               Antes de aterrar em Varadero (Cuba), foi duas vezes ao Brasil na tentativa
               noite com outros olhos. Os bares estavam               de encontrar um lugar de bom negócio. A falta de segurança fê-lo desistir.
                                                                      Embarcou para Cuba com o mesmo objetivo. Porém, naquela época, só
               ávidos de liberdade, imagem bem diferente              aceitavam investimento estrangeiro com um mínimo de capital de um mi-
               do que acontecia na terra que o viu nascer:            lhão de dólares. Esteve para desistir até encontrar uma mulher, já com uma
                                                                      filha nos braços (Flávia), que o enfeitiçou: “ela andava a vender ovos pelas
               “a noite em Braga era proibitiva”. Girava por          casas. Então para estar comigo a falar, comprava-lhe os ovos todos. Com-
               todo o lado sem carta de condução: “ainda              prei a mais pessoas e fiquei com o mercado dos ovos”. Casou-se pelo regis-
               hoje não a tenho. Para quê? Pago e vou!”.              to e foi pai de duas meninas: Ana (nasceu em Cuba) e Margarida (Portugal).
















































               #SIMatuaREVISTA                                   JULHO · 2025                                            65
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