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CRÓNICA
AS AUSÊNCIAS QUE MARCAM
O DIA DA MULHER E O DIA DO PAI!
N o mês que se comemora o Dia da Mulher e o Dia do dades. E, mesmo assim, muitas vezes não se sentem
reconhecidas. São mulheres que, em silêncio, carre-
Pai, desafio-te a olhar com outros olhos para estas
celebrações. Enquanto o mundo enche as pratelei-
gam o peso da culpa e da responsabilidade. Mas e
ras de presentes e bombardeia as redes sociais com
aquelas que nunca foram mães? O luto é igualmen-
te pesado. Mulheres que, por escolha ou por cir-
imagens perfeitas, há uma realidade silenciosa que
muitas vezes passa despercebida: o luto invisível de
cunstâncias da vida, não tiveram filhos e, com isso,
quem não se encaixa nas expectativas criadas pela
que o valor de uma mulher está atrelado à sua capa-
sociedade. Mulheres que vivem a dor de redefinir
a sua identidade ao tornarem-se mães, ou que en-
cidade de gerar vida.
frentam o vazio de nunca ter sido mães, mas são enfrentam a constante pressão social que lembra
No Dia do Pai, a sociedade repete o mesmo padrão,
constantemente lembradas de que esse é o (único) sem perceber que o luto de muitos filhos e pais é o
papel esperado. Do outro lado, temos pais que sen- grande protagonista desse dia. Filhos que perderam
tem o peso da ausência, filhos que perderam pais os pais cedo demais, filhos que nunca conheceram
cedo demais. Homens que não são pais, porque não o afeto de um pai, pais que perderam os filhos e que
podem ou não querem. Celebrar é importante, mas vivem uma dor eterna, homens que sempre deseja-
será que já paramos para refletir sobre o que estas ram ter filhos, mas não puderam. E, assim como as
datas realmente representam para todos? Há mui- mulheres que são constantemente desafiadas por
tas feridas que ninguém vê.
estereótipos e expectativas, muitos pais sentem-se
As mulheres carregam lutos silenciosos, lutos invi- esquecidos, incompreendidos ou, até mesmo, au-
síveis que moldam as suas vidas de maneiras que a sentes das suas próprias famílias.
sociedade raramente vê. A pressão de ser mulher, Não estou a dizer que não devemos honrar e cele-
mãe, esposa, profissional e amiga muitas vezes so- brar estas datas. Longe disso. Mas o Dia da Mulher
brecarrega o coração de quem se sente aprisionada e o Dia do Pai podem ser mais do que comemora-
em papéis impostos. No entanto, o luto que se es- ções: podem ser momentos para refletirmos sobre
conde nas entrelinhas é o mais profundo: o luto de as ausências, os lutos e as realidades que muitos
deixar de ser mulher para ser mãe, de se perder na carregam em silêncio. E, acima de tudo, para cele-
jornada da maternidade e na busca pela perfeição. brar a presença, a resiliência e a força daqueles que,
São mulheres que têm de deixar para trás partes de
Patrícia Sousa no silêncio, fazem-se cada vez mais fortes.
si mesmas, os sonhos pessoais, os desejos, as liber-
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Literacia do luto - Sessões de Informação
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66 MARÇO · 2025 #SIMatuaREVISTA