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SAÚDE
“Saúde mental sem silêncios”: um diá-
logo de todos para todos
Após a apresentação do Guia, decorreu a
tertúlia “Saúde mental sem silêncios: um
diálogo de todos e para todos”, moderada
por Sara Barbosa, das Irmãs Hospitaleiras
de Braga, e com intervenções de Marília
Oliveira (assistente social), Rui Ferreira
(enfermeiro especialista em saúde men-
tal), Marina Ribeiro (psicóloga) e Mariana
Mangas (médica psiquiatra).
Os especialistas foram unânimes em afir-
mar que o estigma social, o silêncio e a
iliteracia continuam a ser os principais
obstáculos à promoção da saúde mental
em Portugal.
“É urgente falar de saúde mental sem ta-
bus e com informação credível. O estig-
ma ainda leva muitos a sofrerem em silên-
cio”, sublinhou Marília Oliveira.
Também o enfermeiro Rui Ferreira refor-
çou a necessidade de se refletir sobre as
razões pelas quais tantas pessoas conti-
nuam a não procurar ajuda especializada,
alertando para situações que começam
muitas vezes na infância.
“Há crianças que não verbalizam senti-
mentos e que vivem com a sobrecarga de
serem cuidadoras, assumindo responsa-
bilidades que não se adequam à sua ida-
de nem deveriam assumir, muitas vezes
para ajudar a família”, explicou. “Os homens não choram”: o peso do si- morte com tristeza — essa tristeza é uma
lêncio masculino adaptação à situação —, mas se persistir
O especialista acrescentou que ainda se Entre as reflexões mais marcantes, des- mais de 12 meses pode significar uma pa-
associa o problema de saúde mental à tacou-se o alerta da psiquiatra Mariana tologia”, exemplificou.
ideia de fraqueza, o que leva muitos a es- Mangas para a dificuldade dos homens
conderem o sofrimento. em procurar ajuda. Educar, ouvir e agir
O evento, que decorreu no Auditório
“Temos pessoas que, em consulta, pe- “Os homens são quem menos procura Isidro Alves, reforçou a necessidade de
dem para não serem identificadas; outras apoio e quem mais dificuldade tem em educar a população, reduzir o estigma e
ficam internadas e não querem que a fa- solicitar ajuda. Crescemos a ouvir que ‘os fortalecer o tecido social através de lite-
mília seja avisada. As pessoas escondem homens não choram’ e isso tem um peso racia emocional.
quando precisam de ir a uma consulta de enorme na forma como lidam com o sofri-
psiquiatria. O estigma continua.” mento”, afirmou. “Queremos que este guia chegue a es-
colas, serviços, comunidades — mas tam-
Rui Ferreira alertou ainda que a falta de A especialista explicou ainda que a saúde bém às casas, aos cafés e aos grupos de
respostas sociais e de oportunidades mental é dinâmica e deve ser acompa- amigos. Porque todos podemos fazer a
para quem sofre contribui para perpe- nhada ao longo do tempo, distinguindo diferença”, sublinhou Marina da Silva Ri-
tuar o problema: “Na sociedade é mais as reações emocionais naturais dos sinais beiro.
fácil rotular alguém como ‘louco’ do que de alerta.
criar oportunidades e apoiar. Precisamos As Irmãs Hospitaleiras de Braga encerra-
de mudar essa lógica e começar por ouvir, “Uma coisa é sentir-se ansioso porque ram a Semana da Saúde Mental com uma
compreender e incluir. está a passar por um momento de stress; mensagem clara: “Cuidar da mente é
outra é quando essa ansiedade se pro- cuidar da sociedade”.
longa no tempo. Posso reagir a uma
#SIMatuaREVISTA NOVEMBRO · 2025 67

