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SAÚDE


                                      INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
                A                     insuficiência cardíaca (IC) é uma condição clínica




                                      que, muitas vezes, se instala de forma lenta e pro-
                                      gressiva, sendo difícil para o doente reconhecer
                                      os primeiros sinais. Esta patologia resulta da inca-
                                      pacidade  do  coração  bombear  sangue  suficiente
                                      para o organismo, comprometendo a oxigenação e
                                      o fornecimento de nutrientes aos tecidos. Apesar
                                      dos avanços no diagnóstico e tratamento, continua
                                      associada a elevada morbilidade, hospitalizações
                                      frequentes e significativa mortalidade.
                                      Trata-se de uma doença crónica para a qual existem
                                      tratamentos eficazes, embora ainda sem cura defini-
                                      tiva. Um doente diagnosticado com IC, que siga cor-
                                      retamente as recomendações médicas e mantenha
                                      a toma regular da medicação, pode viver  anos  com
                                      qualidade e autonomia, realizando a maioria das ati-
                                      vidades do dia a dia. Em Portugal, estima-se que afete
                                      cerca de 4% da população, com prevalência crescen-
                                      te com a idade. Estudos internacionais apontam que,
                                      até 2030, as doenças cardiovasculares continuarão
                                      a ser a principal causa de morte e incapacidade em
                                      todo o mundo.
                                      As causas mais comuns de IC incluem hipertensão
                                      arterial, diabetes, obesidade, enfarte agudo do mio-
                                      cárdio, alcoolismo crónico e algumas doenças como
                                      miocardiopatias, hipertiroidismo, arritmias ou valvu-
                                      lopatias. Muitas vezes, a IC surge como consequência   e prolongar a sobrevida. Neste contexto, destaca-se
                                      do mau controlo de fatores de risco cardiovasculares   o papel do médico de medicina interna como espe-
                                      e sedentarismo. A maioria dos doentes com hiper-  cialidade com abordagem global e integradora do
                                      tensão ou diabetes, a nível mundial, não está devida-  doente, sendo particularmente adequada à comple-
                                      mente diagnosticada ou controlada, o que contribui   xidade da IC. Os internistas gerem não só a patologia
                                      para o aumento futuro de casos. Portugal segue essa   cardíaca, mas também as comorbilidades frequen-
                                      tendência, enfrentando uma verdadeira ameaça de   tes  —  como  insuficiência  renal,  diabetes, anemia  ou
                                      saúde pública.                              hipertensão — otimizando o tratamento de forma
               Dr. Arnaldo Pires                                                  abrangente e personalizada.
                                      OS SINTOMAS INICIAIS SÃO INESPECÍFICOS:
               Consultor de Medicina Interna
               Competência em gestão de serviços   • fadiga                       Nas últimas décadas, a terapêutica da IC evoluiu
               de saúde                                                           significativamente.  Novos  fármacos,  como  os  iS-
               Hospital Privado Braga - Trofa sul  • falta de ar com o esforço    GLT2, inicialmente desenvolvidos para a diabetes,
               CNS Campus Neurológico - Braga                                     demonstraram benefícios claros em doentes com IC.
                                      • edemas nos tornozelos
                                                                                  A  utilização  de  dispositivos  como  desfibrilhadores
                                      • aumento da frequência urinária noturna    implantáveis, terapias de ressincronização cardíaca
                                                                                  e ferramentas de monitorização remota estão igual-
                                      COM A PROGRESSÃO DA DOENÇA, SURGE:
                                                                                  mente em expansão.
                                      • dificuldade em respirar em repouso
                                                                                  A educação do doente assume um papel central na
                                      • necessidade de dormir com a cabeceira elevada   adesão ao tratamento e na prevenção de descom-
                                                                                  pensações. O conhecimento dos sintomas de alarme,
                                      • edemas das pernas extensos
                                                                                  o controlo rigoroso dos fatores de risco e a adoção de
                                      • limitação severa da mobilidade            estilos de vida saudáveis são fundamentais. A pre-
                                                                                  venção da IC deve começar cedo, com hábitos sau-
                                      O diagnóstico baseia-se nas queixas do doente, exa-  dáveis: alimentação equilibrada e pobre em sal, práti-
                                      me físico e exames complementares como análises,   ca de exercício físico adaptado, abandono do tabaco,
                                      eletrocardiograma, ecocardiograma e radiografia do   limitação do consumo de álcool e controlo de peso,
                                      tórax. Identificada a causa, ou fatores de descompen-  colesterol e glicemia.
                                      sação, devem ser corrigidos. O tratamento pode ser
                                      exclusivamente médico, mas em alguns casos exige   A insuficiência cardíaca não é, necessariamente,
                                      intervenção cirúrgica, como na substituição de válvu-  uma  sentença  de  limitação!  Com  o  acompanha-
                                      las cardíacas.                              mento certo é possível manter uma vida ativa e com
                                                                                  qualidade.
                                      O acompanhamento médico regular é essencial para
                                      melhorar a qualidade de vida, reduzir hospitalizações   Cuide do seu coração!

               #SIMatuaREVISTA                                   JULHO · 2025                                             71
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