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REPORTAGEM































































               A  sessão  terminou  com  um  momento  de   “Precisamos  de uma  literacia  emocional   porque há vida e só falamos de luto, porque
               partilha,  onde  alguns  participantes  emo-  que normalize o luto. Não para o minimi-  há amor.
               cionaram-se ao relatar as suas próprias his-  zar, mas para o integrar. Precisamos de falar   Para Nuno Pires, da direcção da Universi-
               tórias. A emoção esteve presente e com ela   mais sobre o luto — nas escolas, nas famí-  dade Sénior de Barcelos, esta aula aberta
               a certeza de que falar sobre o luto é, tam-  lias,  nos lares,  nos  hospitais.  O luto não  é   “vem  ao encontro  da  missão  da universi-
               bém, um ato de amor.                 uma doença. É parte da vida. É a experiên-  dade, que é educar para a vida em todas as
                                                    cia  mais  dolorosa  vivenciada pelo  ser  hu-
               Entre  os vários  temas  abordados,  desta-  mano e não deve ser vivido sozinha”.   suas dimensões. Falar sobre o luto é falar
               cou-se a importância da escuta ativa e da                                 sobre humanidade. É um ato de coragem e
               presença  verdadeira:  “Muitas vezes  não   A sessão teve  impacto não  apenas  emo-  também de prevenção de sofrimento emo-
               há nada a dizer — e tudo a sentir. O silên-  cional,  mas  também  pedagógico.  Muitos   cional prolongado.”
               cio  empático,  a  escuta  sem  julgamentos,   alunos pediram a continuação da temática,   Esta iniciativa, ainda nas palavras daquele
               valem mais do que mil conselhos bem-in-  sublinhando o desejo de aprender mais, de   responsável, é “exemplo” daquilo que deve
               tencionados.”                        falar mais e de ajudar outros a compreen-  ser a educação ao longo da vida: “Os nos-
                                                    der aquilo que tantas vezes lhes doeu em
               O luto precisa  ser  falado  — e sentido  em   silêncio.                  sos alunos enfrentam muitas perdas: fami-
               conjunto. A aula aberta não foi apenas um                                 liares, sociais, físicas. Não podemos educar
               evento pontual. Foi, como referiu a forma-  “Não há cura para o luto, porque não é uma   só para  a autonomia  e o saber  formal.  É
               dora, um chamamento à responsabilidade   doença.  Mas  há  cuidado.  E  onde  há  cui-  nosso  dever  proporcionar-lhes  espaço  e
               coletiva.  Patrícia Sousa  defendeu  ainda   dado, há caminho,”  concluiu a  especialis-  ferramentas para compreender, acolher e
               a  necessidade  de  uma  mudança  cultural:   ta, relembrando que só falamos de morte,   partilhar essas vivências”.

               #SIMatuaREVISTA                                   JUNHO · 2025                                            55
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