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REPORTAGEM                                                                                                                              REPORTAGEM


               Aula Aberta dinamizada por especialista em Suporte Técnico ao Luto

               UNIVERSIDADE SÉNIOR DE BARCELOS

               DEU TEMPO E VOZ AO LUTO


              F         alar  sobre  o  luto  continua
               TEXTO: Marta Amaral Caldeira


                        a  ser  um  desafio  social  —
                        mas  também  uma  urgên-
                        cia  emocional.  Numa  aula
                        aberta  intensa,  humana  e
               comovente,  a  Universidade  Sénior
               de  Barcelos  criou  espaço  para  dar
               voz à dor da perda, à escuta empáti-
               ca e à necessidade de não deixar nin-
               guém sofrer em silêncio.
               A Universidade Sénior de Barcelos abriu as
               portas a uma conversa urgente e profun-
               damente necessária: o luto. A aula aberta,
               dinamizada por Patrícia Sousa, especialis-
               ta certificada em Suporte Técnico ao Luto,
               reuniu dezenas de participantes num mo-
               mento de reflexão e aprendizagem sobre a
               complexidade da dor da perda.
               “O luto não cabe em cinco fases, porque o
               ser humano não é uma equação emocio-
               nal simples”, começou por explicar Patrícia
               Sousa, destacando que “o luto é uma expe-
               riência individual, não linear, muitas vezes
               solitária e incompreendida pela sociedade.
               Não é apenas tristeza. É também raiva, cul-
               pa, alívio, confusão — e tudo isso é válido”.
               Durante a sessão, que decorreu na Bibliote-
               ca Municipal de Barcelos, foram abordados
               temas muitas vezes negligenciados, como
               os lutos não reconhecidos — aqueles que a
               sociedade não valida, como a perda de um
               animal de companhia, a perda gestacional,
               a entrada na reforma, o diagnóstico de uma
               doença, o término de um relacionamento,
               o fim de uma amizade ou até a morte de um
               ex-companheiro —, as perdas secundárias
               que acompanham o luto principal, e os me-
               diadores  que  influenciam  profundamente
               a forma como vivemos e processamos es-
               sas experiências.

               “Precisamos urgentemente de  falar sobre
               o luto com  mais  abertura  e sensibilidade.   para uma sociedade mais humana”.  está  a  sofre”.  “É  importante  substituirmos
               Há muitas pessoas a sofrerem em silêncio,                                 estas  frases  por uma  presença  genuína  e
               julgadas  por  não ‘seguirem  em  frente’  no   Na  aula  aberta  também  foram  discutidas   palavras como ‘estou aqui contigo’, ‘não sei
               tempo que lhes impõem,” afirmou a forma-  expressões  comuns  que,  apesar  de  bem   o que dizer, mas quero estar ao teu lado’, ou
               dora. Patrícia Sousa foi mais longe: “A escu-  intencionadas, podem magoar quem está   simplesmente  ouvir  sem  julgar”,  reforçou
               ta ativa, a empatia e o respeito por cada his-  a viver  um processo  de luto: “tens  de ser   Patrícia Sousa.
               tória  de  perda  são  ferramentas  essenciais   forte”, “a vida continua”, “pelo menos já não


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