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CRÓNICA

CALA-TE E FICA!
V ivemos numa sociedade que tem medo do silên- precisa de um espaço seguro para desabafar. Preci-

sa contar a mesma história mil vezes. Precisa reviver.
cio. Uma cultura que nos ensina, desde cedo, a
responder, a opinar, a aconselhar, a agir. E, no
Precisa chorar. E tu? Tu só precisas ouvir. Só isso. É
meio desse ruído constante, esquecemo-nos do
básico. É díficil. É tudo.
poder transformador de simplesmente… estar.
Escutar alguém no luto é validar a sua dor sem ten-
Perder alguém é atravessar um deserto. E não, não
é só uma frase feita. É uma solidão crua, silenciosa,
perda é única, como são únicos os amores que tive-
onde cada passo dói e cada memória pesa. Nes-
mos. A dor não precisa ser consertada — precisa ser
sa travessia, o que menos se precisa é de um GPS tar dar-lhe um formato. É reconhecer que cada
acolhida. O luto não é uma doença que precisa ser
emocional que tente dizer onde virar, o que sentir curada — é um amor que precisa ser vivido, mesmo
ou quanto tempo vai durar. Não é sobre atalhos. É que na ausência.
sobre presença.
A verdadeira empatia não se mede pela capacidade
Se queres ajudar alguém que está a viver o luto, ca- de dizer a coisa certa, mas pela disposição de estar
la-te. Sim, cala-te. E fica. Fica mesmo quando não presente quando nada mais faz sentido. Ser escuta
sabes o que dizer. Fica mesmo quando a dor do é ser ponte. É ser cais. É ser abrigo no meio da tem-
outro te incomoda. Fica mesmo quando tudo den- pestade. Porque às vezes, no meio da dor, o que
tro de ti grita para “fazer alguma coisa”. Às vezes, a
maior prova de amor é conter o impulso de falar — e mais cuida é alguém que simplesmente diz com o
ouvir com o coração. olhar: “Eu estou aqui.”
Temos medo do sofrimento dos outros porque ele Vamos inverter o jogo? Vamos, finalmente, apren-
espelha os nossos. Queremos aliviar a dor alheia der a ouvir? Vamos parar de fugir da dor dos outros
porque, no fundo, também temos medo de enfren- como se fosse contagiosa? Porque, um dia, todos
tá-la. Por isso, oferecemos frases feitas, clichês en- seremos os que precisam ser ouvidos. Todos chora-
vernizados de boas intenções: “Ele está num lugar remos por alguém. Todos precisaremos que alguém
melhor”, “Tudo acontece por uma razão”, “Tens de fique em silêncio — ao nosso lado.
ser forte”. Mas nenhuma dessas frases consola um Hoje, se conheces alguém em luto, não ofereças
coração despedaçado. Apenas o isola mais.
palavras. Oferece presença. Escuta com o coração.
A pessoa em luto não quer receitas. Não quer so- Está lá. De verdade. Porque o silêncio, quando nas-
luções. Não quer ser corrigida nem apressada. Ela ce do amor, pode ser o som mais curador do mundo.
Patrícia Sousa
O AMOR SUPERA TUDO
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Literacia do luto - Sessões de Informação
Storyteller de Histórias de Vida de
Pessoas Especiais que já Morreram
Guia do Caminho de Santiago
968 246 011

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