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REPORTAGEM                                                                                                                              REPORTAGEM


                   ADOLFO LUXÚRIA CANIBAL







                   ROSTO MAIOR DO GRUPO MUSICAL MÃO MORTA


                                                    TEXTO: Ricardo Moura · FOTOS: Lais Pereira










































               A          dolfo Augusto Martins da   que nasce o embrião  dos  ‘Mão Morta’. A   umas férias em Berlim… e foi assim que nas-

                                                     Outubro de 1984. Berlim Ocidental. É aqui
                                                                                         ceram os ‘Mão Morta’”, banda portuguesa de
                          Cruz  Morais  de  Macedo.
                                                    banda  “apareceu de  uma  forma  quase  ane-
                                                                                         rock avant-garde, formada na cidade de Bra-
                          Assim escrito, pouco ou
                          nada  diz  ao  comum  dos
                                                    A  explicação  é  descrita  desta  forma:  “tudo
                          mortais.  Todavia,  se assi-  dótica”, confidencia  Adolfo  Luxúria  Canibal.   ga.
                                                                                          “NUNCA EXISTIU MÚSICA EM CASA”
               narmos Adolfo Luxúria Canibal, raro é   acontece quando o Joaquim Pinto, que tinha   As palavras do vocalista gravam um tempo
                                                    a namorada a viver em Berlim, vai passar férias
               o português, nascido nos anos 70, que   com ela. Por esses dias, vai ver os ‘Swans’, o   irrecuperável. Nascido em Angola, cedo viu a
               não  crie  espanto  por  uma  voz  incon-  primeiro concerto que a banda faz na Europa.   ‘metrópole’ num olhar iluminado por um céu
               fundível que dá corpo aos ‘Mão Morta’,   Foi  um  espetáculo  meio  underground,  não   diferente. Deixou a capital e rumou até Vieira
               a banda mais icónica de Braga e que   havia barreira entre o artista e o público. No   do Minho. Canibal recorda que “nunca exis-
               figura no culto da música portuguesa.  final, foi aos camarins dizer que tinha gosta-  tiu música  em  casa”. Os  anos  iam passando
               A celebrar 40 anos, rebobinamos o    do do concerto e cruza-se com Harry Crosby,   até que esbarra num EP de Zeca Afonso que
               passado para compreender o segredo   baixista da banda nova-iorquina. Entre meia   viria a constituir o “Baladas e Canções”. Isto
               de  um  grupo  que  teve  tudo  para  não   dúzia de palavras, pergunta-lhe se é baixista.   aconteceu  “porque a minha  mãe  tinha  sido
               dar certo e que, ainda hoje, movimenta   O Joaquim Pinto diz que não, mas o Crosby   colega do Zeca Afonso em Coimbra. Foi in-
                                                                                         clusive convidada para ser madrinha do seu
                                                    diz-lhe que tem cara de baixista. Ficou com
               uma legião de fãs que pula de geração   essa frase na cabeça e quando chega a Por-  primeiro filho. Ele mandou-lhe os discos to-
               em geração. O tempo serenou o ímpe-  tugal, liga-me a mim e ao Miguel Pedro para   dos. Lembra-me à noite, já deitado, levantar-
               to, mas nunca abdicou do inegociável –   formarmos  uma  outra  banda.  Diz ainda  que   -me para ouvir o som porque ouvir música era
               “a verdadeira liberdade criativa”.   arranjou  dois  ou três  sítios  em Berlim  onde   um acontecimento. Uma espécie de conspi-
                                                    podíamos tocar. A ideia era ir lá tocar e passar   ração”.

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