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MÚSICA
“CICLOIDE”
É O NOVO ÁLBUM DO PIANISTA MANUEL
BELLESA, UM CICLO COMPLETO DE
CIVILIZAÇÃO NA TERRA
N ome incontornável do ‘Cicloide’ é o seu último trabalho em CD ciclo civilizacional em que vivemos não estará a
completar-se?”. A palavra ‘CICLOIDE’ ecoou na
prestes a chegar-nos às mãos. Quer escla-
meio jazzista nacional,
minha cabeça novamente e decido gravar um
recer de que estamos a falar?
Manuel Bellesa tem-
trabalho onde tento mostrar em música, com
MB - Claro! Antes de mais, gravei este álbum de
nos mostrado ao
longo da sua carreira
clo completo de civilização na Terra.
hábito, gosto de criar histórias, ou seja, projetos
várias facetas que nos merecem originais em Piano Solo em 2024. Como é meu uma forte componente de improvisação, um ci-
Sabemos que gravou um CD no formato trio
temáticos. Quando ouvi pela primeira vez a pa-
admiração e curiosidade. lavra ‘cicloide’, gostei da sua sonoridade e fiquei, em 2011, mas nem todos sabem que nele
simultaneamente preocupado e por quê? ‘Ci- está incluído um poema para cada faixa,
cloide’ remete-nos para ciclos de vida e de ime- certo? Também escreve poesia?
Pianista, organista, pedagogo.
Quer comentar? diato surgiu na minha mente o reflexo dos danos MB – Não tanto quanto gostaria, mas sempre
que o planeta tem sofrido. Sou músico nas várias
MB–Torna-se necessário dizer que a minha carreira vertentes, da composição e performance ao en- que existe algo que toca profundamente o meu
inicia nos anos 70 na adolescência. Dei os primeiros sino. Mas, acima de tudo, sou uma pessoa atenta ser, lá vou rabiscando umas linhas, exatamente
passos na guitarra, como quase todo o jovem dessa que não se alheia ao que o rodeia! Preocupo- como acontece com a composição.
época. Das baladas em guitarra às bandas de Rock -me, obviamente com o futuro da humanidade. Então a música e a poesia coexistem em si.
como The Beatles ou Deep Purple, foi um salto ex- Como se manifesta esse processo?
tremamente rápido. Nessas idades tudo acontece ‘Cicloide’ tornou-se um conceito na sua
depressa e em dois ou três anos estava a tocar o mente? MB –Não é explicável. Posso dizer que a poe-
melhor Rock Progressivo / Sinfónico da década. MB - O ‘Cicloide’ nasce de uma experiência sia me inspira para compor e os sons, por vezes,
Refiro-me a bandas como Emerson, Lake & Pal- que fiz em 2024. Simplesmente juntei uma ba- soam como palavras. É simples.
mer, Yes, Gentle Giant, Blood Sweat and Tears, etc.. lada original com uns sons captados pela NASA Quando e onde estará disponível o álbum?
Portanto das guitarras elétricas passo para o Órgão de planetas do nosso sistema solar. O resultado
Hammond - que era o Instrumento Rei dos teclados foi tão surpreendente que quando ouvi… fiquei MB – Será lançado em 21 de Fevereiro em todas
na época. impressionado! Aqueles dois sons juntos escre- as plataformas de streaming e na minha loja on-
line do Bandcamp.
Como aparece o Jazz e o piano na sua vida? veram em mim a seguinte demanda: ”será que o
MB– Depois de tocar música de bandas como as
que referi, o salto foi óbvio! Lembro que estamos a
falar da grande época da Fusão, ou seja, tudo foi ob-
jeto de experiências, de simbioses entre Rock, Jazz
e outras linguagens. Em 78 apaixono-me pelo jazz
quando ouço Bill Evans e formo um dueto com o
guitarrista Toni Peixoto - que foi a nossa escola, pois
sem livros ou métodos, apenas discos, copiamos,
transcrevemos solos e aprendemos a linguagem
que leva este duo ao ‘Hot Clube de Portugal’. O
sucesso foi estrondoso e o jazz e as nossas carreiras
iniciam aí definitivamente. Foi nesta fase que surgiu
o piano.
Uma longa carreira, mas sabemos que nos últi-
mos anos tocou ou voltou ao Órgão Hammond!
MB – Bom, nunca parei de tocar piano em casa, o
Órgão foi uma paixão que aconteceu lá atrás, na ju-
ventude, e que me conduziu ao piano. Em 97 voltei
a ele por diversas razões. A pandemia e o inevitável
confinamento devolveram-me definitivamente ao
meu amado instrumento – o piano.
#SIMatuaREVISTA FEVEREIRO · 2025 69