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REGIÃO                                                                                                                                 MÚSICA

               Pergunto ao teu olhar
               pela colonização das cidades antigas, 
               pela escravidão limpa do amor.
               Pergunto-lhe
               para poder seguir
               despido de qualquer saudade
               e entregar-lhe a palavra
               como se entrega o corpo nu
               à ocupação consentida das noites 
               de onde desapareceremos.
               (Pompeu Martins)


               TEXTO: Marta Amaral Caldeira

               Fafense Pompeu Martins assinalou os seus 25 anos após a edição
               do seu primeiro livro com a publicação da obra de poesia ‘Utopia do Não Ser’

               “ESPERO QUE OS LEITORES

               SE TRANSFORMEM COM ESTE MEU LIVRO


               DE POESIA, QUE SEJAM FELIZES DENTRO DELE”
               I       ntitula-se  ‘Utopia  do  Não  ser’ e  é  a   tem muito. Se este livro conseguir gerar no lei-  Nesta última  apresentação,  João  Artur  Pinto


                                                                                         sublinhou  o empenho  e o trabalho  poético  de
                       mais  recente  obra  do  fafense  Pom-
                                                    tor uma pergunta séria sobre si mesmo, uma só
                                                                                         Pompeu Miguel Martins ao longo dos 25 anos
                       peu Miguel Martins. É na margem da
                                                    pergunta, já valeram a pena os meus 25 anos de
                                                                                         de vida literária.
                       poesia  que  o  escritor, político  e  so-
                                                    poeta”. 
                       ciólogo deixa refletido o seu mundo
                       interior, num gesto de partilha  com
                                                                                         o Pompeu Martins, não temos uma poesia que
                                                    inquietações  humanas,  com  as  características
               o outro,  procurando levar  o leitor a pensar  em   “Os  lugares  são  o  pano  de  fundo  das  grandes   Por seu turno, Joaquim Franco, frisou que “com
               temas  íntimos  como  o significado  dos  lugares,   culturais dos povos e consequente formação de   disfarça a vida, mas uma experiência de vida que
               das gentes e a relação com Deus. O livro está nas   sentido. As pessoas no que toca ao seu ímpeto   se veste de poesia. Poesia que sonda o tempo
               bancas, sob a chancela da Editora Labirinto.   criador são evocadas a partir de artistas ou in-  que foi e o tempo que é… insinuando-se sem se
                                                    tervenientes  políticos.  Já  os  poemas  com  base   revelar na totalidade, deixando para quem lê, o
               Passaram 25 anos desde a publicação da primei-  metafísica são o espaço onde vou ao encontro   enigma  da  interpelação.  Nesta pequena  insta-
               ra obra. Este é já o 10.º livro assinado por Pompeu   da minha espiritualidade e de um Deus que faça   lação luminosa, Pompeu trabalha sobretudo na
               Miguel Martins, depois de se ter aventurado por   sentido e seja parte do coração humano”, revela   corrente alternada do tempo…”.
               outras obras poéticas, mas também pelo roman-  Pompeu Miguel Martins, em entrevista à Revista
               ce e pela diarística, com reconhecimento literá-  Sim.                    “A ‘Utopia do Não Ser’ presenteia cada um dos
               rio  nacional  e  internacional  e  com  publicações                      seus leitores com um arrojado exercício do con-
               integradas em antologias.            “Este livro é uma espécie de arqueologia do ser.   fronto interior com o tempo, com a criança e com
                                                    Estou aqui inteiro, inteiro com os outros pois só   a materialidade do tempo dentro de nós, com os
                                                                                         limites do nosso ser, e com a busca do que, afinal,
                                                    daí, dessa relação, é que se pode criar sentido.   somos.
                                                    Assim sendo o que me inspira, o que sempre me
                                                    inspirou é a humanidade, a forma criativa com   Ler este grupo de poemas, escritos ao longo de
                                                    que os humanos se tocam e se transformam e   mais  de  dez  anos,  muitos  deles  redigidos  em
                                                    transformam o mundo. Até a relação com Deus   geografias do mundo muito diversas, é como fa-
                                                    parte disso: como é que os humanos vão trans-  zer uma arqueologia dentro do percurso de vida
                                                    formando  a face  de Deus com  a sua própria   de cada um”, assinalou Paulo Mendes Pinto.
                                                    face? As minhas conversas com Deus são muito
                                                    terrenas, aprendi isso com Jesus Cristo”.   OBRAS PUBLICADAS:
                                                                                         Lugares dos dias (poesia)
                                                    A apresentação da obra, que teve lugar na Sala   Tempo de habitar o quase corpo (poesia)
                                                    Manoel  Oliveira,  no  Teatro-Cinema  de  Fafe  e,   O Livro do Anjo (poesia)
                                                    mais  recentemente, na  Biblioteca  Passos  Ma-  As Mulheres (teatro)
                                                    nuel, na Assembleia da República, contou com   Contigo para um último dia (romance)
                                                    muitos amigos do autor, entre as quais, as pre-  Máquina Royal (diarística)
                                                    senças, para lá do autor, de João Artur Pinto, edi-  Do intangível (poesia)
               Confessando-se  “poeta”, o escritor indica  que   tor, Joaquim Franco, jornalista da CNN Portugal   Ficar (romance)
               a obra ‘Utopia do Não Ser’ “pretende, acima de   e de Paulo Mendes Pinto, uma figura central da   Paris 50 (poesia)
               tudo, levar os leitores a habitá-la e a transforma-  Ciência das Religiões e da promoção da liberda-  A Utopia do Não Ser (poesia)
               rem-se”. “Espero que os leitores se transformem   de religiosa.
               com este meu livro de poesia, que sejam felizes
               dentro dele, que se inquietem e que se pergun-

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