Page 82 - SIM 301
P. 82
CRÓNICA
LUTO: ATÉ QUANDO VAMOS
IGNORAR?
Q ual a única certeza que temos? A morte! Falar conversa sobre a morte, evitamos a conversa sobre
a vida. É na consciência da nossa mortalidade e fini-
de vida é falar de morte. Falar de luto é falar de
amor. Quantas vezes parámos para refletir sobre
tude que descobrimos a verdadeira magia de viver.
o que realmente importa? Falar sobre morte – e
Falar sobre a morte é um chamamento para uma
sobre o luto – é desconfortável, mas é uma con-
vida mais significativa, mais intensa e mais viva.
versa que precisamos abraçar. E se, em vez de
Vivemos na cultura do analfabetismo do luto, como
vivermos com medo da morte, a víssemos como
uma lembrança constante de que cada instan-
não sabemos lidar com ele de forma saudável nem
te conta? Não será hora de começarmos a falar
equilibrada. E mesmo antes da morte e do luto nos
sobre ela com a profundidade e a coragem que lhe chama a psicoterapeuta Alba Payás. Por isso,
“bater à porta” já chegou ao coração de algum fa-
merece? Quando a morte chega não sabemos o miliar ou amigo. O que fazemos? Asneira. Tantas
que dizer e muito menos o que fazer. Pior: atreve- asneiras.
mo-nos a dizer e a fazer muitas asneiras. Este é
um convite para cada um de nós. Vamos falar de Nada nem ninguém nos prepara para receber a pior
morte? Vamos falar de luto? Todos podemos fa- notícia das nossas vidas. Nada nem ninguém vai tirar
zer diferente. Todos podemos fazer a diferença. a dor do coração partido que nunca mais vai abraçar
Vamos começar essa conversa! O tempo é agora. a pessoa que ama. Mas podemos fazer diferente.
Podemos efetivamente fazer a diferença.
Na nossa sociedade, desenvolvemos uma habilida-
de notável para impedir qualquer menção à morte. Falar sobre a morte e o luto não é sinal de fraqueza,
A morte tornou-se o tabu supremo, um tema evita- mas sim de coragem. É um chamado para reconhe-
do nas conversas quotidianas como se, ao mencio- cer a dor do outro sem tentar consertar o irreparável.
nar essa palavra, pudéssemos invocar a sua presen- O que podemos fazer de diferente? Podemos co-
ça prematura ou impedir a sua inevitabilidade.
meçar essa conversa. O tempo é agora. Perder algo
A morte é, sem dúvida, um dos maiores mistérios ou alguém que amamos já é tão doloroso. Porque
e, paradoxalmente, a única certeza que temos na insistimos em “espetar” facas num coração que está
vida. A nossa sociedade, porém, evita falar sobre ela, em carne viva e partido em mil pedaços? Estamos
criando um “muro de silêncio” que impede não só a juntos nesta jornada de sensibilização, informação,
Patrícia Sousa compreensão dessa realidade, mas também o aco- educação e apoio? O momento de fazer diferente e
lhimento daqueles que enfrentam o luto. Ao evitar a fazer a diferença é agora.
O AMOR SUPERA TUDO
Email: info@oamorsuperatudo.pt
Facebook|Instagram: o.amor.supera.tudo
Literacia do luto - Sessões de Informação
Storyteller de Histórias de Vida de
Pessoas Especiais que já Morreram
Guia do Caminho de Santiago
82 DEZEMBRO · 2024 #SIMatuaREVISTA