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CRÓNICA



                                       LUTO: ATÉ QUANDO VAMOS


                                       IGNORAR?
              Q                        ual  a  única  certeza  que  temos?  A  morte!  Falar   conversa sobre a morte, evitamos a conversa sobre




                                                                                  a vida. É na consciência da nossa mortalidade e fini-
                                       de vida é falar de morte. Falar de luto é falar de
                                       amor. Quantas vezes parámos para refletir sobre
                                                                                  tude que descobrimos a verdadeira magia de viver.
                                       o que realmente importa?  Falar sobre morte – e
                                                                                  Falar  sobre  a morte é um chamamento para  uma
                                       sobre o luto – é desconfortável, mas é uma con-
                                                                                  vida mais significativa, mais intensa e mais viva.
                                       versa  que  precisamos  abraçar.  E  se,  em  vez  de
                                                                                  Vivemos na cultura do analfabetismo do luto, como
                                       vivermos com medo da morte, a víssemos como
                                       uma lembrança constante de que cada instan-
                                                                                  não sabemos lidar com ele de forma saudável nem
                                       te conta? Não será hora de começarmos a falar
                                                                                  equilibrada. E mesmo antes da morte e do luto nos
                                       sobre ela com a profundidade e a coragem que   lhe chama a psicoterapeuta Alba Payás.  Por isso,
                                                                                  “bater à porta” já chegou ao coração de algum fa-
                                       merece? Quando a morte chega não sabemos o   miliar  ou amigo. O  que  fazemos?  Asneira.  Tantas
                                       que dizer e muito menos o que fazer. Pior: atreve-  asneiras.
                                       mo-nos a dizer e a fazer muitas asneiras. Este é
                                       um convite para cada um de nós. Vamos falar de   Nada nem ninguém nos prepara para receber a pior
                                       morte? Vamos falar de luto? Todos podemos fa-  notícia das nossas vidas. Nada nem ninguém vai tirar
                                       zer diferente. Todos podemos fazer a diferença.   a dor do coração partido que nunca mais vai abraçar
                                       Vamos começar essa conversa! O tempo é agora.   a  pessoa  que  ama.  Mas  podemos  fazer  diferente.
                                                                                  Podemos efetivamente fazer a diferença.
                                       Na nossa sociedade, desenvolvemos uma habilida-
                                       de notável para impedir qualquer menção à morte.   Falar sobre a morte e o luto não é sinal de fraqueza,
                                       A morte tornou-se o tabu supremo, um tema evita-  mas sim de coragem. É um chamado para reconhe-
                                       do nas conversas quotidianas como se, ao mencio-  cer a dor do outro sem tentar consertar o irreparável.
                                       nar essa palavra, pudéssemos invocar a sua presen-  O que podemos fazer de diferente? Podemos co-
                                       ça prematura ou impedir a sua inevitabilidade.
                                                                                  meçar essa conversa. O tempo é agora. Perder algo
                                       A  morte  é,  sem  dúvida,  um  dos maiores  mistérios   ou alguém que amamos já é tão doloroso. Porque
                                       e,  paradoxalmente,  a  única  certeza  que  temos  na   insistimos em “espetar” facas num coração que está
                                       vida. A nossa sociedade, porém, evita falar sobre ela,   em carne viva e partido em mil pedaços? Estamos
                                       criando um “muro de silêncio” que impede não só a   juntos nesta jornada de sensibilização, informação,
               Patrícia Sousa          compreensão dessa realidade, mas também o aco-  educação e apoio? O momento de fazer diferente e
                                       lhimento daqueles que enfrentam o luto. Ao evitar a   fazer a diferença é agora.
               O AMOR SUPERA TUDO
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               Literacia do luto - Sessões de Informação
               Storyteller de Histórias de Vida de
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               Guia do Caminho de Santiago 



























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