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REPORTAGEM
SÍLVIA MOTA LOPES
Poetisa, pintora, ilustradora
Aos 54 anos, a bracarense Sílvia Mota Lopes, pintora, poetisa, ilustradora
e autora de literatura infanto-juvenil, prepara-se para receber, no próxi-
mo dia 22, o 1.º prémio de poesia atribuído pela Ari(t)mar, no âmbito do
Concurso da Melhor Poesia Galega e Portuguesa. Um feito alcançado
com o poema ‘Há mulheres que trazem’ – um elogio à perseverança e à
ternura feminina, num mundo que, em pleno século XXI, a mulher ainda
precisa de reivindicar pelo seu empoderamento.
O poema vencedor da edição 2024 do concurso não tinha título porque,
tal como às telas que pinta, Sílvia não lhos dá porque só faz sentido dar
expressão às emoções que a impulsionam para a arte, seja ela poesia,
pintura ou ilustração.
A organização do concurso decidiu batizar o poema com o seu primeiro
verso: ‘Há mulheres que trazem’ – sendo este um dos poemas incluídos
no livro ‘Túnica Íntima’, publicado em 2022.
“A túnica íntima é uma artéria do coração que está mais em contato com
o sangue e eu decidi dar este tema a esta minha obra precisamente por-
que se trata de uma poesia mais relacionada com o eu lírico, mais inti-
mista”, refere a artista, confessando que “há sempre algo em mim identi-
ficável e intimamente reconhecível”.
Apontando para as “vivências do momento” como o elemento motiva-
dor que circundou este e os trabalhos que se seguiram, designadamen-
te a obra poética intitulada ‘Ofício Volátil da Memória’, Sílvia Mota Lopes
assinala a existência de uma espécie de “fio condutor” entre os seus li-
vros: “nunca se fecha um ciclo”, diz, “julgo que há sempre uma réstia de
luz que passa de um poema para o outro”.
Foi desse entrelaçamento de poesias que surgiu a obra ‘Túnica Íntima’
– uma tentativa de ir “ao encontro do outro” a partir de poemas mais inti-
mistas e herméticos – e é precisamente nesta mesma obra que se inscre-
ve o poema vencedor do concurso galego-português.
Poema dedicado às mulheres reivindica pela auto-estima pessoal
e pela sua valorização social
Foi com grande surpresa e muita emoção à mistura que Sílvia Mota Lo-
pes foi recebendo o feedback “muito positivo” ao poema ‘Há mulheres
que trazem’ da parte de amigos e fãs que a seguem nas redes sociais
que alimenta. “Dedico o poema às mulheres e à condição feminina a
que muitas estão remetidas porque entendo que muitas assumem esse
papel de submissão e estão sempre à espera de algo ou de alguém… Es-
“A minha arte faz-se de tiveram à espera no passado e continuam a estar, hoje. E eu pergunto:
muitas camadas de pele, por que não tomam as mulheres a iniciativa de plantar e de cuidar do seu
num só corpo, num coração jardim, por que estão sempre à espera das flores”, questiona.
em uníssono” “As mulheres têm de se valorizar, pois só dessa forma é que a mulher
pode efetivamente cumprir um papel igual ao do homem na sociedade”.
O poema de Sílvia Mota Lopes foi o que arrecadou mais votos entre os
Por: Marta Amaral Caldeira dez que estavam a concurso e que foram selecionados de dez obras de
N unca pinto aquilo em que não acredito e algo que não “Quando soube que o meu poema tinha sido o vencedor senti muito
editoras diferentes. A votação decorreu online e o poema da bracarense
teve grande impacto junto do público.
seja verdadeiro para mim. Da minha arte também faz
parte o mundo onírico e a utopia. Há sempre algo em
orgulho. Não estava mesmo nada à espera…”, conta, exibindo, ainda, o
mim identificável e intimamente reconhecível. A minha
sorriso de alegria com que recebeu a notícia. “Eu partilho, de longe a
arte faz-se de muitas camadas de pele, num só corpo,
num coração em uníssono”. longe, os meus poemas nas redes sociais e, realmente, este poema teve
uma grande recetividade das pessoas que me seguem e, sobretudo, das
mulheres. Julgo que muitas delas se reviram neste poema”.
Continua
48 NOVEMBRO · 2024 #SIMatuaREVISTA