Page 20 - SIM 299
P. 20

REPORTAGEM                                                                                                                              REPORTAGEM



               DOCENTE DE LITERATURA GREGA DA CATÓLICA DE BRAGA DISTINGUIDA NA MADEIRA
                         ANA PAULA PINTO









                     VENCE PRÉMIO LITERÁRIO JOÃO AUGUSTO D’ORNELAS COM CONTO ‘ILHAS’















































              É          no silêncio da Biblioteca Padre Júlio Fragata SJ, na Facul-  va, que Ana Paula Pinto o submeteu a concurso literário, “sem grandes


                         dade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Ca-
                                                                      expetativas”, mas respondendo a um impulso interior que lhe sussur-
                                                                      rou ao ouvido para ter coragem de expor a sua escrita à crítica de um
                         tólica Portuguesa – Centro Regional de Braga, que Ana
                                                                      júri especialista.
                         Paula  Pinto, docente de  Línguas  Clássicas  e doutorada
                         em Literatura Grega, se entrega aos livros e à gestão das
                         coleções bibliográficas. Mas, entre a arte de lecionar e as   “’Ilhas’ é, no fundo, um conjunto de memórias que guardo da fase final
                                                                      da vida do meu pai, que sofreu de uma demência sem nome, do espec-
               funções de professora bibliotecária, existe o espaço de criação literá-  tro do Alzheimer”, revela a autora galardoada.
               ria – uma arte cujo mérito acaba de lhe ser reconhecido com o conto
               ‘Ilhas’, vencedor do Prémio D´Ornelas, promovido pelo Município de   “Infelizmente, o meu pai teve um final de vida que contrasta com toda
               Câmara de Lobos. O conto, que verte a sua atenção para a problemáti-  a sua história de construtor naval… e foi, de facto, uma fase muito difí-
               ca da degeneração do ser humano e da doença mental, será em breve   cil de acompanhar e vivenciar por toda a família, mas, apesar de tudo,
               editado, publicado e divulgado ao público em geral.    teve, pelo menos, os cuidados dos familiares mais próximos”. A situa-
                                                                      ção do pai tornou-a mais alerta e sensível para todos aqueles que não
               “Não se trata propriamente de um conto enquanto narrativa tradicio-
               nal de ação, mas de um conjunto de textos de cariz autobiográfica que   podendo usufruir desse conforto do ninho, só têm a institucionalização
               coloca como protagonista central da história o meu pai”, refere a do-  como resposta. “Por excelente que a resposta social seja, é muito dife-
               cente e autora de ‘Ilhas’. Foi este conjunto de textos, que gravitam à   rente, sobretudo para um idoso, estar institucionalizado ou ter a possi-
               volta da questão da doença degenerativa do próprio pai, recorrendo,   bilidade de estar no espaço da sua casa e ao cuidado diário da família”,
               persistentemente a episódios da infância e das memórias que conser-  sublinha.


               20                                               OUTUBRO · 2024                               #SIMatuaREVISTA
   15   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25