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REPORTAGEM                                                  REPORTAGEM




               CRESCER E GANHAR COMPETÊNCIAS                          questão importante. Nós damos tudo o que temos, porque é essa a nossa
                                                                      filosofia, mas aqueles meninos precisam de mais e melhores condições.
               Não há como dizê-lo de outra forma: quase todos estes jovens têm um   Tem de haver uma adaptação do espaço, para terem momentos mais re-
               grau de deficiência acima de 95%, não controlam funções básicas, como   servados para as terapias, equipamento para os estimularmos pelas artes
               comer, falar, fazer as necessidades fisiológicas. “Mas aprendem a sociali-  ou pelo desporto, por exemplo. Se os pais já nos dizem que eles evoluem
               zar. Antes, quando estávamos em algum sítio, ele queria a atenção toda   nas condições atuais, acredito que os resultados serão ainda melhores
               para ele. Agora, sabe partilhar a atenção e manter-se sereno. Por tudo   quando as obras estiverem terminadas. Nós recebemos financiamento
               isto, é importante e diferenciador este projeto. Não queremos apenas um   público como várias instituições, já assim foi para criar o CADI. É um es-
               sítio onde os deixar para podermos trabalhar, queremos mais que isso”,   paço que queremos colocar ao serviço da comunidade e este é apenas
               garante.
                                                                      mais um exemplo”, finaliza.
               ESPAÇO SERÁ READAPTADO COM APOIO DE ALGUMAS
               EMPRESAS
               Hoje, no SYNergia já há uma zona de banho e troca fraldas, há uma kit-
               chenette para preparar refeições, espaços para as terapeutas, mas a inter-
               venção de adaptação irá melhorar as condições, tornando o espaço mais
               reservado para as terapias da fala, terapia ocupacional ou fisioterapia, e
               adquirir material articulado e mobiliário adaptado. “Temos aqui duas pro-
               ficionais, as mães também dão algum do seu tempo para ajudar, porque,
               no fundo, estas crianças são filhos de todas. As alterações permitirão dar
               qualidade aos utentes e também a quem cuida. Estamos todos ansiosos
               que as obras comecem”, afirma, ansiosa.
               Para quem conhece a realidade, dinheiro é coisa que não sobra a estas
               famílias. As terapias são caras, a mediação é cara, as cadeiras e adaptação
               de carrinhas para transporte são caras, a comida tem de ser feita de forma
               adaptada à capacidade de ingestão cada um. Da mesma forma, a Asso-
               ciação Synergia não tem capacidade para proceder às alterações neces-
               sárias, por isso, espera-se que a solidariedade empresarial possa dar uma
               ajuda. “Estamos a ter o apoio do IBG – International Business Group, si-
               tuado em Oleiros, Vila Verde, através da R3Natura do Leonel Mendonça.
               Estão a ser os nossos padrinhos. Já encontraram um engenheiro especia-
               lista que nos está a ajudar a perceber o que é necessário para avançar com
               a obra, o projeto de especialidade, que tipo de vidro devemos usar, os re-
               vestimentos, tudo… Quando soubermos o que é preciso, vamos bater às
               portas e encontrar o material necessário para fazer a obra”, assegura.   FAMÍLIAS DESESPERAM POR SOLUÇÕES
               Vânia Costa, diretora de Marketing do Grupo IBG, destaca “a necessidade   “NÓS QUEREMOS TRABALHAR!”
               de apoio a este grupo para alavancar o projeto numa fase inicial, na orga-
               nização, na comunicação, divulgação e angariação de apoios. No entanto,   Há sete jovens no projeto, mas muitos mais precisam de uma resposta
               é nossa intenção continuar a colaborar com o projeto depois de estar con-  deste género – e que, infelizmente, estão ‘fechados’ em casa. É difícil
               cluída a remodelação do espaço. É um projeto que nos diz muito”, refere.  encontrar instituições que fiquem com pessoas sem qualquer autono-
                                                                      mia, até porque as condições físicas precisam de adaptação para as re-
               PULSEIRAS DERAM O ‘PONTAPÉ DE PARTIDA’ PARA            ceberem. Por isso, é normal encontrar mães e pais, de baixa há longos
               ANGARIAÇÃO DE FUNDOS                                   períodos porque não encontram solução. É o caso de Fátima Couto.
               Sónia  Martins  mostra-se  agradecida:  “Não posso  esquecer  o apoio  da   Tem uma filha com 19 anos, que andava na Escola Alberto Sampaio, mas
               Pais em Rede, no início, e agora da Câmara Municipal, que nos ajuda no   o tempo de escolaridade acabou. “Ainda perguntei se poderia ficar mais
               transporte de quatro jovens e tem sido uma ajuda fundamental. Estamos   um ano na escola, mas disseram-me que não, porque não têm recursos.
               a tentar envolver as instituições do concelho, a Câmara Municipal, as Jun-  Abrindo uma exceção para ela, teriam de abrir para todos. Fui procurar
               tas de Freguesia, todos aqueles que nos possam ajudar. Entretanto, cria-  soluções, mas deparei-me com listas gigantes, ou respostas sem con-
               ram-se as pulseiras para começarmos a angariar dinheiro e têm sido um   dições para receber a minha filha. Felizmente, encontrei este projeto.
               sucesso”. As famílias vendem as pulseiras através do Facebook (na página   Esta resposta vai permitir-me uma vida mais normal. Somos uma família
               Estrelasquenosunem) ou pessoalmente, para conseguirem juntar dinhei-  com cinco pessoas e, se eu não tiver onde deixar a minha filha, não pos-
               ro para as obras.                                      so trabalhar. Não porque não queira, mas porque não posso”, explica.
                                                                      De seguida, Fátima explica algo difícil de entender: “Estive desempre-
               SYNERGIA ABRAÇOU O PROJETO                             gada de 2012 a 2022. Sou professora contratada e não tenho qualquer
               As vontades juntaram-se, os contactos foram feitos, as sinergias aconte-  direito. Era sempre colocada em Lisboa… e como iria levar a minha filha?
               ceram. É assim que gosta de trabalhar Ricardo Sousa, presidente do SY-  [pausa] Houve muita revolta neste percurso, muitos pedidos de ajuda,
               nergia, e este foi apenas mais um exemplo. “Quando criámos o Centro de   muitos momentos em que desesperei. Há uma norma europeia que ain-
               Artes e Desporto Inclusivo (CADI), a intenção foi fazer da inclusão uma   da não foi transposta para a legislação portuguesa que poderia permitir
               prática do dia-a-dia. Este não é o primeiro projeto relacionado com a de-  aos contratados pedir qualquer apoio por doença, então, ficamos sem
               ficiência, porque o objetivo é esse mesmo: trazer estas pessoas para den-  qualquer apoio. Fui dando algumas explicações para tentar angariar di-
               tro do SYnergia. O “Estrelas que nos unem” vai de encontro a essa ideia   nheiro lá para casa, porque o ordenado do meu marido não dava para
               inicial”, explica o responsável. “A SYnergia tem caraterísticas muito úni-  tudo”, lamenta. “Eu queria trabalhar, mas deixava-a onde? Fui concor-
               cas, porque recebemos aqui pessoas de várias proveniências, que usam   rendo e consegui alguns horários pequenos aqui perto como professo-
               o espaço de forma diferenciada, sejam jovens voluntários de programas   ra de Matemática, que é a minha área, permitindo-me dessa forma dar
               internacionais, idosos, pessoas com deficiência, e acredito que esta é uma   apoio à minha filha. Entretanto, como fui concorrendo, foi possível pedir
               das caraterísticas que mais beneficia estes jovens. É a verdadeira inclu-  uma baixa de seis anos para assistência à minha filha, contando tempo
               são”, assegura.                                        de serviço e, finalmente, consegui vincular e trabalhar com horário com-
                                                                      pleto”, refere. E se não houvesse esta solução? “Não poderia. Não teria
               A adaptação das instalações é o próximo passo, uma necessidade urgen-  quem ficasse com a minha filha”, finaliza.
               te e para a qual a Associação SYnergia fará o que for possível. “Essa é uma

 SETEMBRO · 2024  #SIMatuaREVISTA                              SETEMBRO · 2024                                            17
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