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REPORTAGEM                                                                                                                              REPORTAGEM


               “ESTRELAS QUE NOS UNEM”




               UM NOVO PROJETO PARA UM PROBLEMA DE SEMPRE



































              P          or  momentos,  coloquemo-nos  no  lugar       Um sorriso. Dois, três, quatro, cinco, imensos sorrisos à espera, para nos conta-



                                                                       rem o que pretendem: mostrar o novo projeto do SYnergia para pessoas com
                         de uma família com um filho com defi-
                                                                       multideficiência. Coincidentemente, há um lanche de confraternização das fa-
                         ciência,  com  dependência,  totalmente
                                                                       mílias dos sete jovens que já estão no “Estrelas que nos unem” desde Dezembro,
                         dependente de terceiros para a realiza-
                                                                       mente e amigos que apoiam o projeto. Em breve, atingirá a capacidade máxima
               ção das “AVD – atividades da vida diária” – sentar,     quando abriu as portas, mas também as famílias que pretendem entrar futura-
                                                                       (10), mas até lá ainda há um caminho a percorrer no que diz respeito à adaptação
               comer,  deitar,  no  fundo,  tudo.  Quando  chega  a    do espaço – no CADI, será dividida uma área da nave principal, com todas as
               maioridade destes jovens no Cartão de Cidadão,          condições para terapeutas e voluntários para prestarem um serviço condizente
                                                                       com as necessidades destes jovens. Sónia Martins, responsável pelo projeto no
               na teoria, mas bebés na prática, o que fazer com        Synergia, destaca a centralidade do espaço. “Enquanto trabalhadores, não po-
               eles se não há respostas? A falta de soluções é gri-    demos levar os nossos filhos a 20 ou 30 kms de distância, a Amares ou a Navarra,
                                                                       porque não temos horário nem transporte – temos de perceber que são jovens
               tante e obriga a que pai ou mãe metam baixa para        sem qualquer autonomia e alguns em cadeiras de rodas. Aqui, em Santo Adrião,
               apoio  ao  filho ou  deixem de  trabalhar  e fiquem     estamos numa área central”, defende a responsável.
               com estatuto de cuidador. Em ambos os casos, a          O início desta aventura começou… “quando o meu filho deixou de ter escola,
               vida fica em suspenso.                                  desde final de Julho do ano passado. Foi aí que comecei a procurar soluções e
                                                                       não encontrei. Falei com o Ricardo Sousa em Setembro, ele percebeu do que
               É um problema de sempre, que continua sem res-          se tratava e a urgência que havia e decidiu ajudar-nos, desde o primeiro minuto,
                                                                       fez contactos, tivemos a ajuda do grupo IBG e estabelecemos parceria com o
               postas… Bem, continua se não houver pais e mães         IEFP. O processo desenvolveu-se e, a 18 de Dezembro, viemos para aqui pela
               que as promovam, provoquem e edifiquem novos            primeira vez. Em Janeiro já tínhamos sete meninos, que ficam aqui com as duas
               projetos, como se fizessem uma nova casa para-          terapeutas, a Andreia e a Maria”.
               lela à sua. Isso mesmo foi o que aconteceu com o        Os benefícios da inclusão do projeto como parte do SYnergia tem a ver com a
                                                                       interação que se estabelece entre os jovens e todas as outras pessoas que cir-
               “Estrelas que nos Unem”, uma valência do Cen-           culam diariamente naquele espaço. “Os nossos filhos não evoluem se estiverem
               tro de Artes e Desporto Inclusivo (CADI) a Asso-        sozinhos ou junto com jovens nas mesmas condições. Pelo contrário, ficam mais
               ciação Juvenil SYnergia, impulsionado por Sónia         agitados, regridem na linguagem e comunicação. Eles gritam, fazem sons estri-
                                                                       dentes, não sabem mais que isso. Se estiverem todos juntos, já imagina como é:
               Martins e recebido de braços abertos por Ricardo        repetem-se. Se estiverem com outras pessoas, como os voluntários internacio-
               Sousa, Presidente do Conselho Administração da          nais que estão em programas no SYnergia, aprendem e evoluem. É totalmente
                                                                       diferente. O meu filho já diz o nome do pai, da irmã, já diz algumas palavras sim-
               SYnergia Portugal, e algumas empresas que estão         ples… São pequenas vitórias que fazem a diferença”, conta Sónia Martins.
               a ajudar a dar-lhe forma.

               16                                              SETEMBRO · 2024                               #SIMatuaREVISTA
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