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ESPECIAL ESPECIAL
O TRAÇO ESPONTÂNEO DE
ANA MARIA ARAÚJO
É com o traço que Ana
Maria encontra a paz, a
harmonia e dá respostas
à timidez. Na escola, con-
tou-nos, reconheciam-lhe
capacidade artística, mas, ao longo da
vida, nunca a desenvolveu ou explorou.
Ficou em “hibernação”. Tudo mudou
no local de trabalho – Tesouraria de
Câmara Municipal de Braga, porque
os aniversários e as festas começaram
a ser assinalados com ilustrações da
criadora e o feedback que recebeu
apenas confirmou que devia recuperar
esse gosto da infância e juventude de
forma mais estruturada. Depois de
duas – bem-sucedidas – exposições, a
artista prepara a terceira e continua a
fazer da espontaneidade uma forma de
estar. Os farricocos, o São João, a feira
ou as ruas da sua cidade são motivos
de inspiração, em que o traço e a cola-
gem ganham ‘vida própria’ à boleia da
imaginação.
Como surgiu este gosto pela arte? taneidade que me trouxe até aqui. O trabalho de aço corten surgiu numa
conversa com uma pessoa amiga que trabalha na área, não só do aço, mas
Quando era criança, sempre tive esta tendência para escrever e rabiscar também madeira e outros materiais. Começámos a falar e chegámos à con-
tudo o que via, na secretária, em casa, nos papeis que encontrava e até nas clusão que seria interessante colaborarmos, juntarmos a minha criatividade
paredes, mas nunca dei seguimento à minha paixão pela criação artística. com a habilidade dele de trabalhar o aço. Penso que foi uma colaboração
Quando comecei a trabalhar na Tesouraria de Câmara Municipal de Braga, muito proveitosa, o resultado ficou muito bom e, depois dessa, já fizemos
decidi recuperar essa paixão, entregando postais personalizados a quem mais quatro.
fazia anos. Como eles gostaram, começaram a desafiar-me para continuar
a fazer, até para decorar as paredes do espaço onde trabalhamos. E foi Os motivos das suas obras “falam” muito sobre Braga.
crescendo, até ao momento em que me convidaram a expor na Fonte do
Ídolo, com trabalhos sobre a cidade de Braga e os seus símbolos icónicos. As memórias que tenho do passado, da cidade, são motivos de inspiração
para mim. As cores do São João, as formas das Sete Fontes e dos farricocos,
O que significa para si criar? o dia-a-dia da cidade inspiram-me. Além da primeira exposição que fiz, na
Fonte do Ídolo, também já expus na cafetaria do Jardim do Museu Noguei-
É quase uma terapia para mim, é como se fosse uma parte da minha perso- ra da Silva. Já estou a preparar uma nova exposição, ainda não posso dizer
nalidade que eu coloco no papel. Como sou muito tímida, penso que fun- onde será.
ciona como uma forma de comunicação com o espectador.
Até onde pretende chegar?
Explique-nos como é o seu processo criativo e como passou do papel
para o aço corten. Eu gosto de viver um dia de cada vez, dar passos pequenos. Fazer isto
dá-me prazer; perceber que as pessoas gostam e sorriem ao ver os meus
Quando pego na caneta, o traço é espontâneo. Inicialmente, não existia trabalhos também. Tenho o melhor de dois mundos. É por aqui que quero
mais nada nos meus trabalhos, apenas o traço, sem cor, mas decidi intro- continuar, pela felicidade que me dá fazer isto diariamente.
duzir a colagem para acrescentar a cor, porque alguns temas necessitavam
desse elemento para ir de encontro à mensagem que quero transmitir. Onde podemos ver o seu trabalho?
Não posso dizer que há uma ordem, porque, por vezes, a colagem surge Podem ser vistos nos Instagram, em https://www.instagram.com/tinta.
primeiro, outras é o risco, mas o que eu pretendo mesmo é manter a espon-
de.papel, ou no Facebook, em facebook.com/anamaria.araujo.526438.
10 JANEIRO · 2024 #SIMatuaREVISTA