Page 10 - SIM 290
P. 10

ESPECIAL                                                                                                                                ESPECIAL


               O TRAÇO ESPONTÂNEO DE

               ANA MARIA ARAÚJO








                                                                                      É          com o traço que Ana


                                                                                                 Maria encontra a paz, a
                                                                                                 harmonia e dá respostas
                                                                                                 à timidez. Na escola, con-
                                                                                                 tou-nos, reconheciam-lhe
                                                                                       capacidade artística, mas, ao longo da
                                                                                       vida, nunca a desenvolveu ou explorou.
                                                                                       Ficou em “hibernação”. Tudo mudou
                                                                                       no local de trabalho – Tesouraria de
                                                                                       Câmara Municipal de Braga, porque
                                                                                       os aniversários e as festas começaram
                                                                                       a ser assinalados com ilustrações da
                                                                                       criadora e o feedback que recebeu
                                                                                       apenas confirmou que devia recuperar
                                                                                       esse gosto da infância e juventude de
                                                                                       forma mais estruturada. Depois de
                                                                                       duas – bem-sucedidas – exposições, a
                                                                                       artista prepara a terceira e continua a
                                                                                       fazer da espontaneidade uma forma de
                                                                                       estar. Os farricocos, o São João, a feira
                                                                                       ou as ruas da sua cidade são motivos
                                                                                       de inspiração, em que o traço e a cola-
                                                                                       gem ganham ‘vida própria’ à boleia da
                                                                                       imaginação.





               Como surgiu este gosto pela arte?                      taneidade que me trouxe até aqui. O trabalho de aço corten surgiu numa
                                                                      conversa com uma pessoa amiga que trabalha na área, não só do aço, mas
               Quando era criança, sempre tive esta tendência para escrever e rabiscar   também madeira e outros materiais. Começámos a falar e chegámos à con-
               tudo o que via, na secretária, em casa, nos papeis que encontrava e até nas   clusão que seria interessante colaborarmos, juntarmos a minha criatividade
               paredes, mas nunca dei seguimento à minha paixão pela criação artística.   com a habilidade dele de trabalhar o aço. Penso que foi uma colaboração
               Quando comecei a trabalhar na Tesouraria de Câmara Municipal de Braga,   muito proveitosa, o resultado ficou muito bom e, depois dessa, já fizemos
               decidi recuperar essa paixão, entregando postais personalizados a quem   mais quatro.
               fazia anos. Como eles gostaram, começaram a desafiar-me para continuar
               a fazer, até para  decorar  as  paredes do  espaço  onde  trabalhamos.  E foi   Os motivos das suas obras “falam” muito sobre Braga.
               crescendo, até ao momento em que me convidaram a expor na Fonte do
               Ídolo, com trabalhos sobre a cidade de Braga e os seus símbolos icónicos.   As memórias que tenho do passado, da cidade, são motivos de inspiração
                                                                      para mim. As cores do São João, as formas das Sete Fontes e dos farricocos,
               O que significa para si criar?                         o dia-a-dia da cidade inspiram-me. Além da primeira exposição que fiz, na
                                                                      Fonte do Ídolo, também já expus na cafetaria do Jardim do Museu Noguei-
               É quase uma terapia para mim, é como se fosse uma parte da minha perso-  ra da Silva. Já estou a preparar uma nova exposição, ainda não posso dizer
               nalidade que eu coloco no papel. Como sou muito tímida, penso que fun-  onde será.
               ciona como uma forma de comunicação com o espectador.
                                                                      Até onde pretende chegar?
               Explique-nos como é o seu processo criativo e como passou do papel
               para o aço corten.                                     Eu  gosto  de  viver  um  dia  de  cada  vez,  dar  passos  pequenos.  Fazer  isto
                                                                      dá-me prazer; perceber que as pessoas gostam e sorriem ao ver os meus
               Quando pego na caneta, o traço é espontâneo. Inicialmente, não existia   trabalhos também. Tenho o melhor de dois mundos. É por aqui que quero
               mais nada nos meus trabalhos, apenas o traço, sem cor, mas decidi intro-  continuar, pela felicidade que me dá fazer isto diariamente.
               duzir a colagem para acrescentar a cor, porque alguns temas necessitavam
               desse  elemento para  ir de encontro à mensagem  que quero  transmitir.   Onde podemos ver o seu trabalho?
               Não posso dizer que há uma ordem, porque, por vezes, a colagem surge   Podem  ser vistos nos  Instagram,  em https://www.instagram.com/tinta.
               primeiro, outras é o risco, mas o que eu pretendo mesmo é manter a espon-
                                                                      de.papel, ou no Facebook, em facebook.com/anamaria.araujo.526438.


               10                                               JANEIRO · 2024                               #SIMatuaREVISTA
   5   6   7   8   9   10   11   12   13   14   15