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REPORTAGEM                                                                                                                              REPORTAGEM

               Projeto sem palco, sem guião e sem programa fixo celebrou 10 anos

               PAULO ESSE TRANSFORMOU

               FACE TO FACE BOOK TO BOOK


               EM ESPAÇO SEM FRONTEIRAS



               Texto: Patrícia Sousa










































              N           ão tem programa, nem data fixa. Às vezes é almo-  quem solta uma âncora ao contrário. Não faltou o almoço ao ar li-


                          ço,  outras  vezes  é piano.  Há  quem  chegue  para
                                                                       vre. E aquilo que era um encontro casual virou faísca. A primeira
                          ficar, e quem  passe  só  uma  vez e leve  o mundo
                                                                       sessão do que viria a ser o FFBB aconteceu a 20 de março de 2015.
                          diferente no  bolso.  Chamam-lhe  tertúlia,  outros
                          dizem que é movimento. Mas o Face to Face Book
                                                                       Na vida há encontros que não se programam — acontecem. Assim
               to Book (FFBB) é, acima de tudo, um lugar. Um lugar onde as   Sem nome, sem estatuto. Apenas palavras e presença.
                                                                       nasceu o Face to Face Book to Book.  Nasceu de um impulso poé-
               palavras  se  despem,  os  livros  se  olham  nos  olhos,  e  a  cultura   tico e transformou-se num espaço sem fronteiras. Um lugar onde
               acontece de forma crua, crente e viva.
                                                                       se pensa com o corpo e se sente com palavras.
               “O que vês é belo; mais belo o que suspeitas;           Era  o  início  de  qualquer  coisa,  embora  ninguém  soubesse  exa-
                e o que ignoras, muito mais belo ainda.”               tamente do quê. A única coisa que se sentia — e que se sente até
               (de autor anónimo, da introdução de “Húmus” de Raul Brandão)
                                                                       hoje — era o prazer de estar juntos em torno de palavras que fazem
                                                                       pensar.
               Era uma vez... um poema. Ou melhor: era uma vez uma vontade.   “Havia apenas vontade. Não havia nome, nem estrutura. Mas cor-
               Não é clube. Não é evento. É experiência. E começa sempre com   reu bem. E, no mês seguinte, quis repetir”, partilhou Paulo Esse. O
               um convite: Vem?  Paulo  Esse  — que  nas  tertúlias  se  apresenta   nome — Face to Face Book to Book — apareceu como quem atira
               como “Esse, o S de Santos” — decidiu, literalmente de um dia para   uma pedra ao lago e vê o círculo crescer. Alguns torceram o nariz.
               o outro, dizer poesia com amigos. Foi na Livraria Centésima Pági-  Outros acolheram. Paulo avançou. E não parou mais.
               na. Meia dúzia de pessoas partilharam poemas em voz alta, como


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