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REPORTAGEM





















                                                                                     ‘Empurrão

                                                                                     Cultural’ dá
                                                                                     asas ao sonho de
                                                                                     Paulo Mourinha








               O sonho do Paulo é ser guia cultural na cidade de Braga, mas é necessá-  O ‘Empurrão Cultural’ assenta numa estratégia de promoção da aces-
               rio um empurrãozinho empresarial para que o sonho se torne verdadeira-  sibilidade no seu todo. “Não se trata da questão da acessibilidade física,
               mente real. Através de formação especializada, foi junto da CERCI Braga,   mas, sim, da questão da acessibilidade cognitiva”, sublinha Vera Vaz. “O
               juntamente com mais uma dúzia de colegas com deficiências intelectuais,   nosso grupo de trabalho em Braga está extremamente motivado com
               que Paulo foi devidamente capacitado como guia cultural, tendo adquiri-  este projeto porque irá abarcar vários espaços culturais da cidade e a
               do as competências necessárias para levar a bom porto este desígnio, que   ideia é que o projeto venha a ter uma abrangência o mais global possível
               pode, de fato, servir de porta de entrada no mercado laboral, demonstrando   e que possa ser cada vez mais disseminado e reproduzido enquanto mo-
               que, apesar da deficiência intelectual, é um cidadão tão capaz como outro   delo de formação e integração de públicos diferenciados, que requerem
               qualquer de desempenhar funções profissionais “excelentemente” – assim   uma atenção especial durante as visitas aos espaços museológicos ou
               elogiaram os visitantes.                               patrimoniais”.
               É no Palácio dos Biscainhos, servindo de guia a diversos grupos, que Paulo   “O  nosso  objetivo  é,  efetivamente,  promover  um  dos  nossos  maiores
               tem conseguido cumprir o seu sonho, embora ainda, apenas, em formato   princípios que é inclusão social das pessoas com deficiência, mas tendo
               de experiência em contexto de trabalho. Mas o objetivo é continuar a lutar   em conta que se trata de pessoas que foram devidamente capacitadas
               pelo seu sonho e ser pago pelo serviço que presta. Foi precismente para aju-  para executar estas funções por via de formação específica, como é o
               dar a cumprir sonhos como o de Paulo Mourinha que foi pensado o projeto   caso no nosso guia Paulo, que está, neste momento, a receber estes
               ‘Empurrão Cultural’.                                   grupos de visitantes no Palácio dos Biscainhos”, frisou a responsável da
                                                                      CERCI Braga, acrescentando que, entre os jovens que foram capacita-
               “A concretização do sonho do Paulo e de outros jovens como o Paulo de-  dos para trabalhar na área da Cultura, se encontram também jovens de
               pende de todos nós, mas, de facto, cada visitante cumpre este desígnio por-  grupos vulneráveis como, por exemplo, migrantes. “O nosso objetivo é
               que aproxima o sonho do Paulo à realidade”, assinala Fátima Pereira, direto-  que estes jovens venham a ser, efetivamente, integrados no mercado
               ra executiva da Fundação Bracara Augusta (FBA).        de trabalho”. Ao todo, a CERCI Braga já capacitou 12 jovens que estão
               Trata-se de um projeto que faz comungar a inclusão entre instituições e   prontos para mostrar o que valem no âmbito cultural.
               empresas. O projeto ‘Empurrão Cultural’ já foi, inclusive, alvo de destaque a   “Gostávamos  agora  que  este  projeto  ganhasse  velocidade-cruzeiro  e
               nível internacional e tido como “um exemplo” a seguir. A FBA, a Universida-  que as empresas e outras instituições e entidades possam apoiar verda-
               de Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga, a Cooperativa de Edu-  deiramente a causa da inclusão”.
               cação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidades - CERCI Braga, uni-
               ram os seus esforços para tecer este projeto que tem como propósito maior   A falta de tempo, a falta de conhecimentos como os horários de funcio-
               a capacitação de utentes com deficiência intelectual e jovens migrantes a   namento dos espaços, da programação e das estruturas culturais, bem
               fim de promover a sua integração social e laboral no mercado de trabalho.   como a falta de dinheiro e a falta de companhia são as principais razões
                                                                      elencadas pela população num inquérito realizado no âmbito deste pro-
               “A questão do trabalho com os museus, quer com o Palácio dos Biscainhos,   jeto, enumerou Fátima Pereira, diretora executiva da Fundação Bracara
               quer com outros museus da cidade, tem vindo a ser aprofundada por via   Augusta.
               da área da intervenção artística e da utilização da expressão artística como
               uma estratégia de intervenção junto dos nossos utentes da CERCI Braga”,   “Braga será a Cidade Portuguesa da Cultura em 2025 e é crucial que to-
               explicou Vera Vaz, presidente do Conselho de Administração da CERCI   dos se mobilizem a conhecer o património e os espaços culturais braca-
               Braga. “Os próprios museus foram-se apercebendo das dificuldades e do   renses”, assinalou Fátima Pereira, apontando para que os visitantes pre-
               desconhecimento que sentiam em como receber grupos com dificuldades   sentes na viagem pelo Palácio dos Biscainhos “contaminem, também,
               cognitivas ou outras dificuldades mais específicas e foram também solici-  outras empresas e instituições à descoberta da nossa oferta cultural e,
               tando algum apoio com vista a simplificar a linguagem e os próprios con-  assim, apoiem também a cidade de Braga a superar as expectativas em
               teúdos abordados nas visitas de forma a serem mais bem compreendidos   torno da ‘Cidade da Cultura’”.
               por públicos diferenciados como é o caso das pessoas com deficiência in-
               telectual”.
                                                                                                                    Continua

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