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MÚSICA


               L-BLUES




               O NOME ENGANA, A MÚSICA NÃO



               O trocadilho L(hell)-Blues remete para a sonoridade ‘rockeira’ e o rock genuíno, aquele que muitos pensam
               ter ficado nos anos 90, está lá, mas é o blues e o country que inspira as composições. Os ensaios parecem
               saídos de um qualquer cenário dessa época, em que nos sentamos e parece que estamos a ouvir o “Costa a
               Costa”, programa radiofónico de culto da Antena 3.

              É          em Manhente – Barcelos que fomos en-


                         contrar, na cava de uma fábrica de esto-
                         fos, os L-Blues a ensaiar. O cenário parece
                         saído de um filme dos anos 90 ou de um
                         videoclip  das bandas  que  fizeram  furor
                         na época. O criador deste projeto é Bru-
               no Lopes (guitarra e harmónica), que conta ainda com
               Ana Neto (voz), Céu Neiva (teclas, mas já tocou guitar-
               ra), Diogo Silva (baixista) e Jorge Braga (baterista). “Não
               somos músicos a tempo inteiro. Todos eles foram meus
               alunos, na escola Guitarras de Manhente: Escola de
               Rock, que já existe há 14 anos”, explica.  Jorge Braga, por
               exemplo, é programador. Diogo e Ana são administra-
               tivos, Céu é cientista, mas desde 2015 que se juntaram
               para criar este projeto. “A génese foi a escola. Eu estive
               noutros projetos, antes dos L-Blues, e, quando esta ge-
               ração entrou na escola, acabou por fazer sentido para
               todos criarmos uma banda, quando os convidei. Todos
               eles levavam a música muito a sério, apesar de serem
               jovens”, conta Bruno Lopes.
               Há algo de genuíno na sonoridade dos L-Blues. O rock
               está lá, mas a essência é o blues. “Não são só os acordes
               ou a construção harmónica, mas também o sentimen-
               to que queremos transmitir é do blues e do country. Se
               pensarmos no Bob Dylan, ele não é propriamente do
               blues, mas percebemos que está ali, é uma influência.
               Nós pensámos exatamente no mesmo quando criámos
               a banda e quisemos que fosse cantado em português,
               para dar maior sentido às letras. Geralmente, o blues
               é cantado em inglês e, desta forma, distinguimo-nos”,
               defende o artista.
               Vamos lá explicar  o  nome:  “L (hell-Blues), além do
               trocadilho que lhe dá uma dimensão universal, é uma
               homenagem a Robert Johnson é à fábula célebre na
               música  americana,  em  que  ele  supostamente  fez  um
               pacto com o diabo”, graceja Bruno Lopes. Segundo
               reza a lenda, no lendário cruzamento entre as rodovias
               61 e 49, em Charkdale, no Mississípi, o músico, com uma
               garrafa de uísque não mão e já bastante alcoolizado, te-
               ria ‘vendido’ a sua alma ao diabo, se lhe fosse permitido
               ser reconhecido como o maior músico de blues, sem
               que para isso fizesse grande esforço.
               Com atividades fora da música agitadas e preenchidas,
               é o amor à música que fez o projeto crescer. “Quando se
               gosta, tudo é mais fácil. Quando estive na universidade,
               era mais difícil para conciliar a música com os estudos,
               mas nunca larguei nada. Aliás, até me ajudava a abs-
               trair-me do stress da vida académica”, conta Céu Neiva.


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