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UM
ESTUDO DA UMINHO EXPLICA
A DEMISSÃO RECORRENTE DE
TREINADORES DE FUTEBOL
A longevidade de um treinador nas principais ligas de fu- também com más performances ou por o clube até estar com resultados
notáveis em provas europeias”, justifica Paulo Reis Mourão.
tebol da Europa depende de obter um número razoável
de pontos no campeonato nacional face ao orçamento
O maior risco da saída precoce do treinador ocorre nas primeiras 14 jorna-
total da sua equipa, conclui um estudo da Universida-
de do Minho. Ou seja, quanto menos pontos obtidos
panhola e italiana esses riscos são mais distribuídos. Por regra, o cenário
e maior o orçamento do clube, mais provável é a saída das e, na liga inglesa, também nas jornadas finais, enquanto nas ligas es-
do mister. O trabalho de Paulo Reis Mourão e Paulo Araújo foi publicado de despedimento dispara quando se acumulam derrotas nos cinco a dez
na revista “Applied Economics” e analisou 598 treinadores e 1074 casos jogos mais recentes ou caso o coach possa ser transferido para um clube
de despedimento/mudança no cargo, entre as épocas de 2009/10 e de divisão superior ou com mais orçamento. Já estar a disputar várias pro-
2019/20, nas ligas profissionais de Alemanha, Espanha, França, Inglater- vas paralelas reduz em 15% a sua hipótese de demissão.
ra, Itália e Portugal. TREINADOR “DURA” NOVE MESES NA I LIGA
“O 7º lugar do Benfica à 4ª jornada não é o mesmo que um 7º lugar do O estudo não deu como provado que fatores como o histórico, a idade
Moreirense, pois em cada clube o custo médio (orçamento dividido pelos e a nacionalidade do treinador influenciem em geral a sua sobrevivên-
pontos obtidos) e o custo por golo são bem diferentes – e isso levou à saí- cia profissional, embora haja particularidades em cada país. Por exemplo,
da do técnico Roger Schmidt”, ilustra Paulo Reis Mourão. É a primeira vez em Portugal tende a haver mais dispensas de treinadores com direções
que o custo médio é avaliado cientificamente neste âmbito, frisa aquele de clubes que estão em início do mandato. E há treinadores carismáticos
professor da Escola de Economia e Gestão da UMinho e investigador do como José Mourinho que “resistem” a um mau começo de época.
Núcleo de Investigação em Políticas Económicas e Empresariais. “O trei-
nador é alvo de muitas pressões e percebemos aqui que há uma correla- Das seis ligas profissionais analisadas, Portugal é atualmente onde um
ção económica quando se decide a sua manutenção ou saída do clube”, treinador fica, em média, menos tempo: nove meses e oito dias. Seguem-
frisa. -se França (dez meses), Itália (onze meses), Alemanha, Inglaterra e Espa-
nha (mais de dois anos). No arranque da época 2024/25 houve já trocas
Os investigadores encontraram várias influências complementares na de treinador em 43% das equipas daquelas ligas: em 14 das 20 equipas
longevidade do técnico principal. Por exemplo, o perfil financeiro do clu- do Calcio, em 7 das 18 da Ligue 1, em 6 das 18 da Bundesliga, em 5 das 20
be, a competitividade de equipas vizinhas, as caraterísticas individuais do da Premier League e da La Liga e em 12 das 18 equipas da I Liga (Arouca,
treinador ou a “paciência” de dirigentes e adeptos, que esperam resulta- AVS, Benfica, Boavista, Casa Pia, Estoril, FC Porto, Gil Vicente, Moreiren-
dos a curto prazo. “Se o treinador está a fazer um campeonato interno de- se, Nacional, SC Braga, Vitória SC).
sastrado, isso pode eventualmente ser ofuscado por haver equipas rivais
64 SETEMBRO · 2024 #SIMatuaREVISTA