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REPORTAGEM                                                                                                                              REPORTAGEM




               Mudar de vida

               EDUARDA SILVA ERA BIÓLOGA,


               MAS AGORA DEDICA-SE AOS BOLOS

               C           omo diria António Variações, “Muda de        verter o currículo e fui fazer um curso de cozinha na escola de


                                                                        Escola Hotelaria do Porto. Era uma área que também gostava e
                           vida, se tu não vives satisfeito/ Muda
                                                                        que acreditava que teria mais saída profissional”, conta a jovem.
                           de vida, estás sempre a tempo de mu-
                           dar!/ Muda de vida, não deves viver
                                                                        não era a área que mais me interessava, embora o curso tivesse
                           contrafeito / Muda de vida se há vida        “Comecei a trabalhar em cozinha e, na altura, a pastelaria ainda
                em ti a latejar”. E foi exatamente o que fez Eduar-     uma componente muito forte de pastelaria tradicional portu-
                                                                        guesa, francesa e internacional. Mais recentemente, comecei a
                da Silva. Quando tanto se fala em reconversão de        fazer bolos, foi algo que sempre gostei desde criança. Quando
                currículos, apresentamos-lhe um exemplo de su-          algum amigo ou familiar fazia anos, pediam-me e comecei a ga-
                cesso de quem procurou e encontrou a vocação.           nhar gosto.  Foi um bocado por brincadeira, nada sério”, afirma
                                                                        Eduarda.
                                                                        Quando terminou o curso, começou a trabalhar num hotel, mas
                                                                        há cerca de dois anos, saiu e lançou-se na pastelaria de forma
                                                                        mais estruturada. “Neste momento, tenho uma página onde
                                                                        mostro o meu trabalho: a Cacau e Baunilha. Estou a trabalhar
                                                                        com bolos decorados, complementos de festa como os cup-
                                                                        cakes, os cake pops, mas também outro tipo de pastelaria mais
                                                                        tradicional, digamos, bolos simples, cookies, brownies. Como
                                                                        não tenho atelier aberto ao público, as pessoas conhecem-me
                                                                        essencialmente pelo boca-a-boca e pela página do Instagram,
                                                                        que é onde eu faço a divulgação. É uma espécie de montra”,
                                                                        conta a pasteleira.
                                                                        Eduarda procura diferenciar-se num mercado
                                                                        concorrencial

                                                                        É uma área de muita oferta, mas a profissional gosta de fazer
                                                                        as coisas bem e dar um cunho muito pessoal. “Tenho atividade
                                                                        aberta e a minha cozinha está apetrechada com tudo o que é
                                                                        necessário para o meu trabalho, nomeadamente, ao nível da se-
                                                                        gurança e higiene, tal como exigido. No que diz respeito aos in-
                                                                        gredientes, apenas uso matérias primas de qualidade. O grande
                                                                        problema do cakedesign é que, por vezes, se usam ingredientes
                                                                        excessivamente açucarados, como a pasta de açúcar. Eu não
                                                                        uso, prefiro usar outro tipo de cobertura mais saudável. E sim,
                                                                        realmente, a pasta de açúcar não tem, na minha opinião, um sa-
                                                                        bor agradável. Não utilizo nada pré-feito, é tudo feito na hora,
                                                                        com produtos de qualidade: desde o chocolate belga, passan-
                                                                        do pelos ovos do campo, ou pela fruta fresca… se os ingredien-
                                                                        tes tiverem qualidade, o resultado final será muito melhor, é um
                                                                        investimento que compensa”.

                                                                        Não é só no interior (a base do bolo) que se destacam as cria-
                                                                        ções de Eduarda, no exterior, na cobertura, também é notória a
                                                                        diferenciação. “Prefiro usar designes mais minimalistas, inspira-
                                                                        dos na natureza, talvez pela minha formação em biologia. Gos-
                Eduarda tirou o curso de Biologia, com mestrado em Gestão   to de seguir a ideia inicial do cliente, mas também ter liberdade
                Ambiental, mas não encontrou trabalho. “Vivíamos o período   criativa. Mesmo que me peçam um bolo igual a algo que já vi-
                da Troika, a crise no país fez-me procurar uma nova área. Che-  ram ou tenha uma ideia bastante concreta, tento dar um cunho
                guei  a  trabalhar  na  minha  área,  mas  pouco  tempo.  Por  isso,   pessoal “, assegura.
                como muita gente da minha idade, nessa altura, decidi recon-

               18                                               MARÇO · 2024                                 #SIMatuaREVISTA
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