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ENTREVISTA


                                                                                         Por exemplo, Ricardo Costa, da AEMinho,
                                                                                         acredita que a solução poderá passar pela
                                                                                         criação de uma CIM única, ou de uma
                                                                                         grande área metropolitana, à semelhança
                                                                                         do Porto.
                                                                                         Eu já estive num jantar-debate com ele sobre
                                                                                         esse tema. Na minha opinião, mais importante
                                                                                         que uma CIM única era que as existentes tra-
                                                                                         balhassem em conjunto e pensassem em solu-
                                                                                         ções realistas, adaptadas aos estudantes. Quer
                                                                                         um exemplo? Nós falamos tanto de digitali-
                                                                                         zação e, em 2024, para comprar o passe, um
                                                                                         aluno tem de estar fila. E o problema nem é só
                                                                                         esse: acredita que um aluno de Famalicão, que
                                                                                         queira o passe Famalicão-Braga, não conse-
                                                                                         gue comprá-lo na sua cidade, mas tem de ir a
                                                                                         Braga, à Central de Camionagem, e esperar na
                                                                                         interminável fila, porque não dá para comprar
                                                                                         online?  Estas  questões  têm  de  ter  solu-
                                                                                         ções, que até me parecem de fácil resolução,
                                                                                         se falarmos todos uns com os outros. Neste
                                                                                         momento, um dos maiores problemas que esta
                                                                                         região tem é a falta de soluções de mobilidade.
                                                                                         Os municípios têm um papel importante.
                                                                                         Claro, sem dúvida. Além do apoio ao transpor-
                                                                                         te, sem eles não poderíamos estar nos conce-
                                                                                         lhos em que estamos. À exceção de Braga, em
                                                                                         que o edifício é nosso – nós recuperámos e o
                                                                                         município ajudou-nos com os arranjos exte-
                                                                                         riores – em todos os outros locais estamos em
                                                                                         edifícios dos municípios. Não temos condi-
               O IPCA preencheu a quase totalidade das   nem do ponto de vista social, não se respeitam   ções financeiras nem logísticas para multipli-
               vagas que abriu em 2023, logo na primei-  essas profissões. Como pode um professor ir   car polos, para deslocalizar os nossos serviços
               ra fase, de 14 de 16 cursos. Que leitura faz   dar aulas para Lisboa se os 1300 euros líquidos   e oferta da forma como fazemos agora se não
               destes números?                      que ganha quase não dão para pagar a casa?   houver uma ação concertada com o município.
                                                    No ano passado, já assistimos a um aumento
               Acredito que é, sobretudo, pelo tipo de oferta   na procura por cursos de educação, mas os   É uma relação win-win?
               formativa e pela qualidade. Temos o cuidado   alunos ainda demoram a formar… e já temos
               de não concorrer com o que já é oferecido na   muito alunos sem professor.   Sim, sem dúvida. Por exemplo, em Vila Verde,
               região, mas antes ajustar às necessidades iden-                           fomos para aquele edifício [em Soutelo] que
               tificadas. Quando abrimos o curso de Gestão   Parece haver mais facilidade de adapta-  estava vazio, mas com excelentes condições.
               Hoteleira, no ano passado, foi porquê? Porque   ção da proposta formativa em instituições   Toda a gente ficou a ganhar com a nossa ins-
               sabemos que somos um país com um poten-  como o IPCA que em Universidades, como   talação lá, que tem tido muito bons resultados.
               cial enorme no turismo e é necessária qualifi-  a do Minho, em que parece haver menos   A inauguração da residência e a construção
               cação. Temos de acabar com esta ideia de que   maleabilidade na oferta. É mesmo assim?   de uma nova poderão minimizar os proble-
               qualquer pode servir à mesa ou que qualquer   Somos uma instituição mais pequena, estamos   mas que referiu de mobilidade?
               pessoa pode estar na receção de um hotel. É
               preciso formação específica para elevar a qua-  deslocalizados em alguns concelhos. É uma   Um aluno bolseiro tem direito a alojamen-
               lidade do serviço. Esse é o primeiro ponto. O   necessidade sermos rápidos a adaptar a nossa   to, mas, como não temos residência, cada um
               segundo tem a ver com a qualidade dos cursos   proposta, para minimizar outros problemas   recebe 240 € por mês e arrenda casa, median-
               e os nossos alumni são a melhor publicidade   com os quais nos debatemos. O principal   te os valores que o mercado está a praticar.  No
                                                    talvez  seja  a  falta  de  transportes.  Estou  aqui
               que temos, os nossos verdadeiros embaixado-                               entanto, uma instituição de ensino superior
               res, assim como as empresas que reconhecem   há 27 anos e é terrível tentar conseguir encon-  como o IPCA, sem residência não faz sentido.
               a qualidade do trabalho que se faz aqui e que   trar soluções de mobilidade. Se quiser ir daqui   Temos de ter essa oferta… e demorámos 28
               nos procuram.                        [Barcelos] até Braga de comboio, tem de ir a   anos a ter a primeira.
                                                    Nine e mudar. Tentou resolver-se este proble-
               Há alguns anos, desaconselhou-se a ida de   ma com a recente oferta das Comunidades   Em  relação  a  Vila  Verde,  o  município,  nas
               jovens para cursos de ensino e hoje faltam   Intermunicipais [CIM], que criaram uma rede   palavras da presidente Júlia Fernandes,
               professores.                         de transporte de autocarro, mas não houve   pretende ter um curso superior ligado à
                                                    comunicação entre elas e os horários não são,   Gastronomia. O IPCA poderia ser o promo-
               Este período que estamos a viver é complica-  em muitos casos, compatíveis. Imagine que   tor desse curso?
               do. Aliás, o despacho do Ministério já indica   quero ir até ao AvePark, onde está o IPCA, em
               que é possível que, nas áreas da educação,   transporte público e sou de Barcelos: tenho   Nós queremos continuar a colaborar com Vila
               se aumentem as vagas, para responder à falta   de apanhar o autocarro até Braga; depois de   Verde, fomos muito bem recebidos. Já temos
               de professores. É um problema sério, que   Braga, tem de apanhar outro para Guimarães,   uma Escola de Hotelaria e Turismo, aprova-
               tende a ficar mais grave porque vai aumentar   mas o Avepark não é Guimarães centro. Ou   da desde 2017 para Guimarães – um processo
               o número de professores em idade de reforma.   seja, ainda tem de apanhar outro até ao IPCA.   que ainda é do tempo do Professor João Car-
               Uma das causas que eu identifico é a não dig-  Por  isso,  temos  autocarros  nossos,  pagos  por   valho. As novas instalações estão em constru-
               nificação das profissões. Quando eu andava   nós para assegurar o transporte – e só é possí-  ção e a expectativa é que abra portas em 2025.
               a estudar, o sonho da minha mãe era que eu   vel porque os municípios apoiam, porque sem   Terá um modelo inovador de “escola-hotel”. A
               fosse professora ou bancária, porque eram   eles seria impossível assegurar este transporte   gastronomia é uma área que encaixa bem na
               duas profissões dignas, respeitadas. Hoje,   e presença nestes concelhos.   Escola de Hotelaria e Turismo e tenho falado
               não são atrativas, de ponto de vista financeiro                           com a Júlia Fernandes sobre isso.

               #SIMatuaREVISTA                                 FEVEREIRO · 2024                                          15
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