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VILA VERDE

               Vila Verde ferve em aromas
               SABARIZ TRANSBORDOU SABORES

               ANCESTRAIS NA FESTA DO CALDO DO POTE



               O            cheiro a lenha e o borbulhar de potes de ferro trans-  Sabariz saiu com a certeza de que a tradição, quando bem temperada, é ca-
               Texto: Patrícia Sousa

                                                                       paz de surpreender até os paladares mais exigentes — e que um simples pote
                            formaram a freguesia de Sabariz, no concelho de Vila
                                                                       pode contar histórias que atravessam continentes.
                            Verde, num epicentro gastronómico improvável, onde
                            mais de 2.000 litros de caldo percorreram o caminho da
                                                                       O que torna esta festa verdadeiramente única não são apenas os 26 caldos
                            tradição à modernidade. A Festa do Caldo do Pote vol-
                            tou a reunir cozinheiras e cozinheiros locais, emigrantes
                                                                       os próprios potes: entre eles, um gigante com 150 litros, trazido diretamente
               e visitantes curiosos, numa celebração do mundo rural que já se prepara   diferentes, preparados sem varinhas mágicas nem enlatados, mas também
               para cruzar fronteiras. Em novembro, a tradição chega a Dusseldorf, na   de um comércio de antiguidades e que já serviu exércitos suíços em campa-
               Alemanha.                                               nhas passadas. Ele junta-se aos cerca de 30 outros potes, com capacidades
                                                                       que variam entre 30 e 100 litros, cada um fervendo ao ritmo da tradição.
               Um convite irresistível que sobe das fogueiras a lenha espalhadas pelo re-
               cinto, misturando couves, feijões, batatas, repolho, nabos, nabiças e carnes   Entre pataniscas, bifanas e caldos de migas com feijão, rabo de boi, ossobuco
               campestres num perfume que lembra histórias antigas e almoços de domin-  ou até caldo de ministros, cozinheiros e cozinheiras de Sabariz e freguesias
               go.  O calor das fogueiras deram origem a 26 caldos diferentes, incluindo o   vizinhas mostraram que saberes rurais e sabores de antigamente podem
               inovador caldo de migas com feijão, o clássico caldo de bacalhau e até o ou-  conviver lado a lado com inovação. Em cada colher, não faltou produtos da
               sado caldo de ossobuco com feijão moleiro.              terra, colhidos por mãos que conhecem cada curva do campo e cada história
                                                                       da aldeia.
               O evento, que faz parte da programação “Na Rota das Colheitas” do Municí-  E não é só local: emigrantes de Sabariz trouxeram receitas de longe, a festa
               pio de Vila Verde, não se limitou a caldos. Pataniscas de bacalhau, bifanas e   internacionalizou-se e já tem réplica marcada em Düsseldorf, na Alemanha,
               vinhos verdes completaram a festa, que contou com a participação de mais   a 9 de novembro. Entre cada gole, os visitantes provaram mais do que caldo:
               de seis dezenas de voluntários e atraiu muitas pessoas curiosas e ansiosas por   saboreiam tradição, cultura e um pedaço vivo da história rural de Vila Verde.
               provar as receitas à moda antiga, “sem varinhas mágicas, nem enlatados”.
               Mais do que comida, a festa, que é organizada pela Junta de Freguesia e   Para quem entrou com uma malga na mão — símbolo oficial do evento — a
               pela Associação Popular de Sabariz, com o apoio do Município de Vila Verde,   tarde tornou-se um mergulho livre pelos sabores da terra, celebrando a vida
               mostrou saberes ancestrais, reforçou laços comunitários e transformou o ato   ao ar livre, o convívio e a magia de cozinhar no pote de ferro sobre o lume.
               de cozinhar num ritual que recupera a memória do campo. Quem passou por   Sabariz foi mais do que uma aldeia: foi uma panela de histórias, aromas e me-
                                                                       mórias que continuam a ferver, ano após ano.















































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