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REPORTAGEM
O ‘engenho e arte’ que tem nos genes fo- nico do Cávado e do Ave (IPCA) e também “Acho que esta paixão tem tudo a ver com
ram-lhe transmitidos pelo pai, Bento, natural ela herdeira dos genes talentosos da família, a vontade de aprender sempre e de estar
de Setúbal, que tinha a profissão de litógrafo em 1992 , que a vida de António Santos e da constantemente a desafiar-me a mim pró-
e que partilhava com o filho António a paixão família deu uma reviravolta, que vivia debai- prio”, frisa. “Essa é uma paixão que continuo
da construção de maquetes. Foi também o xo da atmosfera temerosa do final do sistema a sentir porque nada e impossível. Temos é
pai que lhe transmitiu a paixão pela enge- Apartheid. O casal decidiu regressar à terra de ter paixão, força de vontade e determina-
nharia, ainda no tempo de criança, através natal dos pais e vir viver para Portugal. “A vio- ção”.
dos legos e conjuntos técnicos ‘Mecano’ lência era crescente e tínhamos de andar ar-
(um género de lego metálico com porcas e mados na rua e não queríamos isso nem para As palavras de António rebolam de alegria
parafusos). “A arte de usar as mãos e a ima- nós, nem para a nossa filha”, conta o criador e entusiasmo sempre que se lhe pergunta
ginação ajudou-me mais tarde a conseguir da ‘techtone.build’. Os pais do casal já ti- por uma das suas criações. Há sempre uma
ultrapassar todas as dificuldades da vida”, re- nham, entretanto, regressado também. história por trás para contar. “Cada criação é
fere. Formou-se em engenharia no instituto uma novidade. Um desafio novo que tenho
politécnico que frequentou em terras africa- Vida recomeçada em Braga em mãos. Penso num projeto, trabalho-o e
nas onde veio a casar com uma portuguesa, António acompanha a esposa ‘Mimi’ e filha executo-o e é maravilhoso ver o produto fi-
a sua ‘Mimi’ (Maria da Anunciação), de pais com 12 meses para Braga, de onde era na- nal saído das nossas mãos”, refere. “É muito
bracarenses e também ela talentosa e cria- tural, e recomeça a vida a partir do zero. “O bom sentirmos também a evolução da nossa
dora de magníficos brindes. capacidade técnica. É algo que me dá muito
primeiro trabalho que arranjei foi numa loja prazer”.
“Na altura, eu era desenhador mecânico de de modelismo, a ‘Mimo 2’, porque precisava
peças para o ramo automóvel e o trabalho mesmo de sustentar a minha família”, recor- Exposição de trabalhos ao público “é um
que eu tinha era também muito técnico. Na da. “Depois integrei-me numa pequena loja sonho que gostaria de concretizar em Bra-
altura já tinha como hobby a construção de de ferragens, que também montava cozi- ga”
miniaturas de carros de radiomodelismo es- nhas e como eu era técnico também fazia o Um dos sonhos que António Santos tem é
cala 1/10”. Chegou mesmo a participar no desenho manual, conseguindo juntar à ver- exibir os seus trabalhos, nas mais diversas
Campeonato do Mundo, disputado em In- tente comercial, uma área de que gosto”. É vertentes, numa exposição ao público. “A
glaterra (Basildon), em 1993, onde recebeu lá que ainda trabalha, garantindo a sua “esti- possibilidade de expor as minhas criações ao
as cores de ‘Springbok’ (seleção), atribuídas ma” pela oportunidade que lhe foi concedi- público seria um sonho tornado realidade,
ao participantes que representam o seu país. da, mas é no seu hobby, enquanto criador de
miniaturas, que se sente verdadeiramente mas preciso do apoio de alguma entidade
Foi depois do nascimento da filha Natália feliz. que esteja interessada nos meus projetos”.
Santos, designer gráfica no Instituto Politéc-
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