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SAÚDE


                                      DIA MUNDIAL DA ESCLEROSE

                                      LATERAL AMIOTRÓFICA
                A                     21  de  junho,  assinala-se  o  Dia  Mundial  da  Esclerose




                                      Lateral Amiotrófica (ELA), uma data que visa sensi-
                                      bilizar para uma doença neurológica rara, progressi-
                                      va e incapacitante, que afeta cerca de 1000 pessoas,
                                      em Portugal. A ELA caracteriza-se pela degeneração
                                      dos neurónios motores no cérebro, tronco cerebral e
                                      medula espinhal, levando à perda da capacidade de
                                      controlar os músculos voluntários, com consequente
                                      atrofia muscular, dependência funcional progressiva
                                      e, inevitavelmente, morte.
                                      A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), em
                                      conjunto com a APELA – Associação Portuguesa de Es-
                                      clerose Lateral Amiotrófica, tem desempenhado um pa-
                                      pel fundamental na divulgação da doença, na promoção
                                      da investigação, registo nacional de doentes, e no apoio
                                      a doentes e cuidadores.
                                      SINAIS E SINTOMAS
                                      INÍCIO NOS MEMBROS (75–80% DOS CASOS):      PAPEL DA PNEUMOLOGIA E DA VENTILAÇÃO
                                                                                  DOMICILIÁRIA
                                      • Membros inferiores: tropeços, quedas, marcha arras-  A falência respiratória constitui a principal causa de morte
                                      tada (pé caído), perda de força e resistência.
                                                                                  nos doentes com ELA, tornando a pneumologia uma es-
                                      •  Membros  superiores: perda de destreza dos dedos,   pecialidade essencial na abordagem multidisciplinar do
                                      caimbras, fraqueza, atrofia muscular, mão caída.  doente.
                                      INÍCIO BULBAR (20–25% DOS CASOS):           Assim, a gestão ventilatória, a otimização da tosse, a pre-

                                      •  Fala  arrastada,  rouquidão,  engasgamento  com  líqui-  venção de infecções e o suporte domiciliário respiratório
                                      dos ou alimentos.                           são centrais! A ventilação não invasiva pode melhorar
                                                                                  significativamente a  qualidade  de  vida  e  prolongar  a  so-
                                      FUNÇÕES PRESERVADAS
                                                                                  brevida. Em casos específicos, a ventilação invasiva (por
                                      • Movimento dos olhos                       traqueostomia) deve ser considerada.
                                      • Controle da bexiga e intestino (na maioria dos casos)  Importante frisar que uma polissonografia precoce pode
                                                                                  identificar falhas respiratórias, durante o sono, na fase ini-
                                      • Sensibilidade geralmente intacta
                                                                                  cial da doença!
                                      Com o avanço da doença, surgem sintomas como atro-
               Dr. Arnaldo Pires      fia muscular, espasticidade, dificuldade em engolir ali-  TRATAMENTOS ATUAIS
               Consultor de Medicina Interna  mentos, dificuldade em articular palavras, produção ex-
               Competência em gestão de serviços   cessiva de saliva e dificuldade respiratória progressiva.   Atualmente, não existe cura para a ELA, e , apenas, alguns
               de saúde                                                           fármacos aprovados demonstraram benefícios modestos:
               Hospital Privado Braga - Trofa sul  A progressão é tipicamente rápida e fatal, com sobre-
               CNS Campus Neurológico - Braga  vida média entre 3 a 5 anos, embora cerca de 10% dos   • Riluzol: disponível há mais de 20 anos, prolonga a sobre-
                                      doentes possam viver mais de 10 anos.       vida em 2-3 meses, em doentes sem suporte respiratório.
                                      Além das manifestações motoras, até 50% dos doentes   •  Tofersen: aprovado para doentes com mutação SOD1.
                                      podem apresentar alterações cognitivas e comporta-  (mutação rara em Portugal)
                                      mentais, incluindo demência frontotemporal.
                                                                                  • Edaravona: aprovado nos EUA, com benefício funcional
                                      DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM                     em subgrupos específicos. Ainda não aprovado na Europa.
                                      MULTIDISCIPLINAR
                                                                                  A investigação continua ativa, com diversos ensaios clíni-
                                      O diagnóstico da ELA é clínico, baseado em sinais de   cos em curso.
                                      envolvimento  de  neurónios  motores superiores e in-
                                      feriores, associados à exclusão de outras patologias. A   DESAFIOS E CAMINHOS FUTUROS
                                      confirmação pode incluir eletromiografia e, em casos   Apesar da gravidade da ELA, a falta de conhecimento ge-
                                      com suspeita familiar (10% dos casos), testes genéticos
                                      (os genes SOD1, C9orf72, FUS e TARDBP estão fre-  neralizado entre a população e alguns profissionais de saú-
                                      quentemente envolvidos).                    de ainda contribui para atrasos no diagnóstico e no início do
                                                                                  acompanhamento adequado. Campanhas como o famoso
                                      Após o  diagnóstico, o doente deve ser encaminhado   “ice bucket challenge” contribuíram para a notoriedade da
                                      para equipas multidisciplinares. O objetivo é manter a   doença, mas ainda há muito por fazer. O envolvimento da
                                      funcionalidade, controlar sintomas, e oferecer suporte   sociedade  civil  é  crucial  para  assegurar  financiamento  à
                                      emocional e social ao doente e à sua família.
                                                                                  investigação, garantir o acesso equitativo a cuidados, pro-
                                                                                  mover a literacia em saúde e apoiar redes de cuidadores.


               28                                                JUNHO · 2025                                #SIMatuaREVISTA
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