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REPORTAGEM
Enfermeiros parteiros querem ajudar a minimizar nerabilidade da grávida em força, mas mantemo-nos junto da mulher
problemas de “contingência” nos Serviços de também no pós-parto porque, naquele momento, o amor está mistu-
Obstetrícia rado com o cansaço e a fadiga e nós ajudamos à construção de laços
fortes que é uma família. Estamos ali para apoiar para ouvir os medos as
“É importante reconhecermos a relevância do papel de um/a enfer- ansiedades e para dar todo o apoio que é necessário”.
meiro/a parteiro/a numa unidade hospitalar, sobretudo, porque é o “Somos o pilar do parto fisiológico”
profissional que acompanha primeiramente uma mudança tão impor-
tante na vida de um casal e, por isso mesmo, é preciso mostrar à socie- “Obviamente que nós, enfermeiros parteiros, não resolvemos as con-
dade aquilo pelo qual nós, profissionais desta área, estamos a passar. tingências porque não substituímos os médicos, mas temos compe-
Têm sido momentos complicados, sobretudo, devido às questões de tências alargadas que, se fossem efetivamente colocadas em prática
contingências dos serviços de obstetrícia e nós temos um papel impor- e se deixassem de lado os lobbies, e eu até diria alguma incapacidade
tante e podemos contribuir para melhorar este serviço que tem que ser a nível governamental para resolver os problemas de fundo, as partei-
atempado e com qualidade”, assinala Margarida Leite Esperança, en- ras e os parteiros poderiam e deveriam estar a fazer parte da solução e
fermeira gestora da área de Obstetrícia do Hospital de Braga. poderiam na verdade estar a exercer o seu papel em muitas situações
que iriam minimizar este problema”, sublinha Lucília Sousa, enfermeira
De uma forma geral, estas “contingências”, estão relacionadas com a
falta de obstetras no Serviço Nacional de Saúde, e que limitam o aces- parteira há 33 anos. “Nós temos competência para fazer a admissão,
so das mulheres grávidas a cuidados de saúde urgentes, seguros e para dar alta e somos, realmente, o pilar do parto fisiológico e da Saúde
humanizados – uma situação que é atualmente transversal a todos os Materna deste país”.
hospitais do país, pois há muitas urgências que têm Serviço de Urgên- “Lamento, sinceramente, que tenhamos governantes cegos que não
cia “em contingência”, algo que está também a acontecer no Hospital são capazes de pegar nos recursos disponíveis que têm e de os ren-
de Braga. tabilizar a favor do país e, acima de tudo, a favor da população que
servimos que são as mulheres”, asseverou a enfermeira parteira. “Nós
“Portanto, o acesso destas mulheres grávidas a nós, profissionais es-
pecializados em Saúde Materna, está a ser limitado e isso também teríamos muito mais a dar se os governantes olhassem para esta espe-
acontece em Braga. É preciso lembrar a sociedade que os enfermeiros cialidade realmente como olhos de ver”.
parteiros são profissionais competentes e com autonomia para cuidar “É, de facto, importante refletirmos sobre o papel destes profissionais
da mulher em todas as fases da sua vida e não é só na gravidez ou no na sociedade para que que os/as enfermeiros/as parteiros/as possam
parto”, assinala a responsável. exercer as suas competências de uma forma global servindo os inte-
resses da população e minimizado alguns dos problemas que, nes-
“Nós estamos presentes em todas as fases da vida da mulher. No parto, te momento, vivemos em termos da Saúde da Mulher”, frisou Lucília
estamos ali firmes e transformamos momentos que são de grande vul-
Sousa.
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