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LIVRO



               Livro de poesia lançado em Braga
               “ENQUANTO O MAR SE AGITA”



               A           barcelense  Daniela  Matos  Leite  acaba  de
               TEXTO: Ricardo Moura

                           lançar o segundo livro da sua autoria intitu-
                           lado “Enquanto o Mar se Agita”. Aconteceu
                           na bela livraria “Centésima Página” em ple-
                           no pulmão da cidade de Braga. Uma obra de
               poesia,  apresentada  por  Anabela  Barros,  Professora  de
               Filologia  e  História  da  Língua  Portuguesa  do  Departa-
               mento de Estudos Portugueses e Lusófonos da Universi-
               dade do Minho, que sucede a “Palavras de Luz e Sombra”,
               publicada em junho de 2023, em homenagem à mãe.


               O vídeo que lançou o mote à sessão pública de apresentação da mais
               recente obra literária de Daniela Matos Leite – onde pudemos con-
               templar a beleza arquitetónica e paisagística de Barcelos – foi o melhor
               condão para a plateia estar atenta e escutar uma autora que sempre
               alimentou o sonho de ser escritora.
               Antes de usar da palavra, coube a Anabela Barros, professora de Fi-
               lologia e História da Língua Portuguesa do Departamento de Estudos
               Portugueses e Lusófonos da Universidade do Minho, falar nestes ter-
               mos “é uma poesia que rescende do ser pleno e da Natureza em que
               o mesmo se integra totalmente, com tanta humildade como ambição,
               vendo-a, sentindo-a, cheirando-a, escutando-a, mastigando-a”.
               SONHO CUMPRIDO
               Daniela Matos Leite começou por lembrar que a paixão pelas palavras
               existe desde que tem memória. Primeiro “o encantamento de as dese-
               nhar, de as ouvir (a minha mãe era professora), enquanto as soletrava”.
               Mais tarde, “a maravilha de as conjugar e de com elas construir histórias
               (e estórias) imaginadas”.
               Não estranhou que o contexto familiar e o instinto pela palavra provo-
               cassem o sonho de escrever “o meu primeiro sonho foi ser escritora,
               sentar-me religiosamente à mesma hora, à mesma secretária, e viver   tudo é para mim um mistério arrebatador. E enquanto o mar se agita, o
               das letras e do encanto que lhes encontrava. Não sei quando deixei de   mundo gira e a vida segue ao ritmo do seu ondear”.
               acreditar nessa possibilidade, mas nunca me divorciei da leitura e da   INFLUÊNCIAS
               escrita. Segui outro caminho, o das Ciências, apesar de nunca ter dei-
               xado de escrever de forma mais ou menos errática”.      Se o primeiro livro foi dedicado à mãe, numa “urgente vontade de abrir-
                                                                       -me à saudade e à dor da perda”, o atual, dividido em quatro partes,
               Todavia, esclareceu a escritora, “nos últimos anos, já com os três filhos   “fi-lo por ela e por mim…quem me conhece entenderá”. Daniela Matos
               maiores e, por isso, com outra disponibilidade e disposição, a vonta-  Leite explica que estamos perante uma “dicotomia do mundo em que
               de de me envolver com a escrita voltou firme. Tive algumas pessoas   vivemos, alicerçada entre o bem e o mal, entre a justiça e a injustiça,
               próximas que me orientaram e foram fundamentais nesta aventura da   entre o amor e o ódio”. Interrogada sobre influências que recolheu,
               publicação”.                                            destaca Sophia de Mello Breyner, Camões e as canções de Fausto.
               RESPIRAR A POESIA                                       SONHO COMANDA A VIDA
               Empolgada, a autora garante que “escrever poesia é respirar, é ver o   Sem se deter, a autora barcelense confessa que “gostaria que um dia
               mundo de uma forma real e ideal, é mergulhar na poeticidade da pala-  os meus netos e bisnetos (se os tiver), ao lerem o que escrevo, saibam
               vra para recriar a vida”.
                                                                       que o sonho comanda (realmente) a vida e que me recordem como al-
               A poesia de Daniela Matos Leite está associada ao mar. A explicação   guém que não desistiu nunca de se superar e de amar a palavra como
               é linear “há no mar uma dicotomia que sempre me apaixonou. Por um   um elo de amor, de eternidade, entre mim, a família e o mundo” ao
               lado, a sua força indomável, a sua imponência, por vezes assustadora,   mesmo tempo, rematou: “quem vier a ler as minhas páginas líricas sai-
               por outro, a serenidade, a beleza quase frágil. A minha conexão com   ba encontrar uma alma feminina devota do espírito, da perfeição, da
               a natureza faz-me depender dele para sobreviver. O fundo do mar, o   beleza, acreditando que as divindades nos habitam, mesmo em águas
               silêncio que encerra, a energia das marés, os azuis e verdes das águas,   agitadas”.




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