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INICIATIVA
PROFESSOR DA UMINHO, JOSÉ
BRILHA, DEFENDE GESTÃO EFETIVA DA
GEODIVERSIDADE
A sociedade já interiorizou que é preciso proteger a
fauna, a flora e cuidar de espécies em vias de extin-
ção, mas há elementos da geodiversidade, como ro-
chas, minerais e fósseis, que têm um extraordinário
valor científico, educativo, estético e cultural e que
devem ser preservados.” Quem o diz é José Brilha, professor cate-
drático da Escola de Ciências da Universidade do Minho e coautor
da proposta do Dia Internacional da Geodiversidade pela UNES-
CO. A efeméride visa sensibilizar os cidadãos para a importância
dos múltiplos elementos geológicos, por vezes negligenciada.
“Muitas pessoas não percebem que dependemos completamen-
te dos recursos geológicos e energéticos no dia a dia (como nos
dispositivos eletrónicos, nos automóveis ou nos cosméticos), que
por isso devem ser explorados de forma responsável”, diz José
Brilha. “Há geodiversidade com características únicas e finita que
não pode ser destruída ou consumida, mas sim protegida”, vinca o há informação, por exemplo, sobre o tipo de rochas que existem
também investigador do Instituto de Ciências da Terra. “Não con- e porque estão naquele lugar”, descreve. O investigador da UMi-
seguimos sobreviver sem recursos geológicos, mas muitas explo- nho reconhece, no entanto, uma crescente sensibilização em geral
rações em várias geografias desvalorizam os impactos ambientais para a preservação ambiental, nomeadamente em Portugal: “So-
e sociais, tal como há um século, quando temos legislação, tecno- mos privilegiados a nível internacional, com recursos geológicos
logias e conhecimento para o impedir”, acrescenta. diversos, com três centenas de geossítios identificados, com boas
equipas técnicas e com a Geologia lecionada nos ensinos básico
José Brilha considera que, até nas áreas protegidas, as políticas não e secundário, mas cujos conteúdos devem ser interligados com
devem focar apenas a biodiversidade, com a fauna, flora e aspetos áreas como Biologia ou História e a própria Associação Portuguesa
culturais divulgados em painéis e outros suportes. “Dificilmente de Geólogos quer colaborar com a tutela nessa restruturação”.
ENVOLVIMENTO POLÍTICO
O Dia Internacional da Geodiversidade é comemo-
rado desde 2022. A sua origem remonta a um con-
gresso internacional online sobre património geo-
lógico, realizado em 2020, tendo na reunião final
sido sugerida a criação de uma data mundial alusi-
va a esta temática. Um grupo de trabalho com quatro geocientis-
tas (dois ingleses, um polaco e o português José Brilha) preparou
um texto sobre a geodiversidade e o seu papel para a humanidade,
os ecossistemas e o planeta. “Contactámos organizações (inter)
nacionais das geociências, conseguimos mais de uma centena
de cartas de apoio e enviámos à União Internacional das Ciências
Geológicas, que por sua vez encaminhou para a UNESCO”, explica
José Brilha.
“Interpelámos depois os embaixadores de Portugal, Polónia e Rei-
no Unido, pois os embaixadores podem propor temas à discussão
dentro da UNESCO, e o apoio político foi total; elaborámos de se- UNESCO”, recorda. O portal oficial desde Dia, com o enquadra-
guida o documento final, os países foram aderindo e a proposta mento e as ações previstas estes dias em todo o mundo, é www.
foi aprovada em novembro de 2021, na 41ª Conferência Geral da geodiversityday.org .
52 OUTUBRO · 2024 #SIMatuaREVISTA