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SAÚDE
SOMOS AQUILO QUE COMEMOS
A diabetes mellitus tipo 2 é uma doença altamente prevalente e desidratadas (sopas, molhos), assim como o consumo excessi-
com incidência crescente nos países desenvolvidos, verifican-
vo de açúcar e de hidratos de carbono de alto índice glicémico,
do-se a mesma situação nos países em desenvolvimento, sen-
presentes em qualquer tipo de açúcar em natureza, “natural”
do por isso considerada um grave problema de saúde pública
ou não, pastelaria e confeitaria caseira ou industrial, bolachas e
a nível mundial, pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
biscoitos, gelados, refrigerantes e sumos de fruta, conservas de
fruta, compotas, geleia e marmelada, gomas, rebuçados, bom-
Esta situação é ainda mais grave, uma vez que apenas cerca
bons e chocolate em geral, e até cereais de pequeno-almoço e
de metade dos diabéticos está devidamente diagnosticada,
e é uma doença de desenvolvimento lento, mas insidioso, que
pode trazer graves problemas de saúde, sendo das principais
Mostraram ser benéficos na prevenção e tratamento da dia-
causas de insuficiência renal, acidentes vasculares cerebrais
betes tipo 2 o consumo de alimentos ricos em ácidos gordos
(AVC), doenças cardiovasculares, cegueira e amputações de pão preparado com farinhas mais refinadas.
monoinsaturados, presentes no azeite, azeitonas, óleo de
membros inferiores.
amendoim, amendoim e abacate, assim como o consumo de
A diabetes mellitus tipo 2, muitas vezes, está relacionada à fibras alimentares presentes nos cereais integrais e farinhas
genética: se há casos de pessoas diabéticas na família, prova- integrais ou menos refinadas, leguminosas, legumes e horta-
velmente, haverá predisposição ao surgimento da doença. Po- liças, e frutas. Enquanto os alimentos integrais e os legumes e
rém, são fatores como a má alimentação e sedentarismo que hortaliças têm, em geral, baixo índice glicémico, as frutas têm
explicam este crescente número de diabéticos. O diagnóstico diferentes índices glicémicos, o que nem sempre as torna ali-
precoce é uma prioridade de saúde pública, de modo a iden- mentos adequados para serem consumidas de forma isolada
tificar e iniciar rapidamente o tratamento da doença, e assim por diabéticos, devendo ser integradas numa refeição (como
prevenir o aparecimento de complicações, que mais elevam sobremesa, entrada ou mesmo fazendo parte do “prato”) ou
os custos de saúde associados. consumidas com outros alimentos às merendas (com um pu-
nhado de frutos secos oleaginosos, iogurte ou queijo magro ou
A prevenção da doença é conseguida através da melhoria da tosta ou pão integrais).
qualidade da alimentação e do nível de atividade física, fatores
estes que também são 2 dos 3 pilares de tratamento da doen- O consumo de peixe, magros e gordos, e o consumo de pro-
ça, a par da medicação e/ou insulina: alimentação e prática de dutos lácteos magros (leite magro, iogurte natural ou de baixo
exercício físico são importantes na melhoria do controlo me- teor de açúcar, queijos de menor teor de gordura, incluindo
tabólico, controlo do perfil lipídico (colesterol e triglicéridos) e queijo fresco e requeijão) são também benéficos na preven-
da tensão arterial, bem como para manter um peso saudável, ção e tratamento da diabetes. Não foi encontrada relação pre-
com o intuito de prevenir o aparecimento das complicações judicial ou preventiva no consumo de frutos secos oleaginosos
da diabetes. em geral (noz, avelã, amêndoa, …), assim como no consumo de
leguminosas (feijão, grão de bico, feijão frade, ervilhas, lenti-
Ana Isabel No que diz respeito à alimentação, estão bem documentados lhas, …), embora estes alimentos devam ser incluídos no âmbi-
os nutrientes e alimentos que, consumidos em maior quanti-
Neves Ferreira dade, aumentam o risco de desenvolver a doença e suas com- to de uma alimentação saudável, pelo papel benéfico que têm
na saúde em geral.
plicações. São eles, o consumo excessivo de gorduras, particu-
Nutricionista 1218N
Sócia da www.girohc.pt larmente de gorduras saturadas e de gorduras trans, presentes Se tivermos conhecimento do que preconiza a dieta mediter-
em grande quantidade na charcutaria, carnes vermelhas, lati- rânica, os seus princípios “encaixam” muito bem nestas reco-
cínios gordos, manteiga, creme de culinária, peles e gorduras mendações. Sendo uma dieta considerada uma das melhores
de animais (banha, toucinho), óleo de coco e coco, sendo que no que respeita à promoção da saúde, e que se identifica com
as margarinas de culinária, salgadinhos, bolachas, confeitaria a cultura e filosofia mediterrânica, onde se inclui Portugal, a
industrial, refeições pré-preparadas, e tudo o que contenha adoção da dieta mediterrânica trará benefícios para a saúde
“gordura hidrogenada”, são também ricas em gorduras trans. e prevenção/tratamento da diabetes mellitus, mas também
para a proteção do ambiente e outras preocupações ecoló-
São também prejudiciais o consumo excessivo de sal (em par- gicas atuais, pois preconiza a preferência por alimentos de
ticular, de sódio), presente em maior quantidade na charcu- produção local - menos propensos à presença de grandes
taria, manteiga e margarina, batatas-fritas de pacote e outros quantidades de agroquímicos e com muito menores distân-
aperitivos, conservas de peixes e hortícolas, azeitonas e tremo- cias percorridas desde a produção até ao consumo, por vezes
ços, queijos curados, molhos preparados, refeições prontas a sem intermediários, conferindo menor pegada ecológica e de-
consumir e de fast-food (pizzas, massas, hambúrgueres) ou
fendendo o ambiente para as gerações futuras.
80 SETEMBRO · 2024 #SIMatuaREVISTA