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SAÚDE
OBESIDADE É DOENÇA. É A DOENÇA
R econhecemos, diagnosticamos e tratamos inúmeras e vários tipos de cancro. E está, como tal, associada a eleva-
DO PRESENTE E DO FUTURO!
da morbilidade e mortalidade. É difícil encontrar qualquer
doenças crónicas. Seria impensável diagnosticar uma hi-
patologia que não seja mais prevalente no individuo obeso,
pertensão arterial e não a medicar. Seria absurdo controlar
uma diabetes e assim que alcançamos esse objetivo sus-
ou cuja obesidade não a agrave.
pender os fármacos que permitiram lograr esse controlo. É
E como quase sempre acontece nestes grandes proble-
inquestionável, nos dias de hoje, o tratamento das doenças
mas de saúde publica, são os países mais pobres e as clas-
crónicas. Porque sabemos que essa abordagem reduz as
complicações, melhora a qualidade de vida e é custo-efec-
aumentos na obesidade, correndo riscos ainda mais graves
tiva. Então, pergunto: E a obesidade? Até quando vamos
por não estarem preparados para lidar com a doença.
ignorar? ses sociais mais desfavorecidas, os que enfrentam maiores
E para além da sua dimensão clínica, a obesidade tem ain-
A obesidade é uma DOENÇA CRÓNICA. É fundamental
mudar o “mindset” da sociedade em geral (e dos profis- da grandes repercussões de dimensão económica e social.
sionais de saúde também...), que estigmatiza e culpabiliza Mais que o impacto direto nos custos de Saúde, está ainda
estes indivíduos. É um erro acreditar que chamar obeso associada ao desemprego e à diminuição da produtivida-
é um insulto à sua dignidade. A obesidade é uma doença de, e assume contornos de flagelo social.
crónica, muito complexa e multifatorial. A gordura cor- É incontornável: Se falharmos hoje na reposta a obesidade,
poral anormal ou excessiva (adiposidade) compromete a as repercussões futuras serão gritantes! Segundo o relató-
saúde, aumentando o risco de complicações a longo pra- rio da Federação Mundial para a Obesidade, o custo global
zo e reduzindo a esperança de vida. Não é – apenas - um desta doença pode atingir os 4,32 biliões de dólares em
problema estético e não resulta – apenas - do excesso de pouco mais de uma década.
ingesta alimentar. É uma doença! Em toda a sua dimensão:
genética, epigenética, neurogénica, hormonal, ambiental, Precisamos mesmo de encarar a dimensão dos núme-
enfim... ros e do problema! A obesidade é uma das doenças mais
prevalentes, mais subvalorizadas, menos diagnosticadas e
Atualmente, 38% da população mundial (o equivalente a menos tratadas da atualidade. Mais que um Problema de
2,6 mil milhões de pessoas) já é obesa ou tem excesso de Saúde Pública é um Problema Prioritário de Saúde Públi-
peso. E, sem mudanças substanciais, o número vai agra- ca!
var-se! Até 2035, mais de metade da população mundial
(51%) deverá tornar-se obesa ou com excesso de peso. E a Para o enfrentar são requeridas estratégias de prevenção,
obesidade entre crianças e jovens deverá, de acordo com mas também de tratamento, em abordagens que com-
os dados atuais, aumentar mais rapidamente do que entre binem intervenções individuais com mudanças sociais e
os adultos. políticas. Abordagens que têm de envolver profissionais
de saúde, mas também a sociedade civil e, naturalmente,
Sabemos ainda que a obesidade aumenta substancial- os decisores políticos. Não podemos continuar a ignorar. É
mente o risco de doenças como diabetes mellitus tipo 2, hi- urgente agir! É urgente prevenir! É ainda mais urgente tra-
pertensão, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular tar! Afinal, a Obesidade é uma doença!
cerebral, demência, osteoartrite, apneia obstrutiva do sono
Dra. Joana Louro
Assistente hospitalar graduada de
medicina interna
62 JANEIRO · 2024 #SIMatuaREVISTA