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CULTURA
GAYA DE MEDEIROS, DIANA minho que se adivinha complexo e desafiante, cina para crianças e famílias; sessões de cinema
NIEPCE, WAYNE MCGREGOR encontrando problemas na arquitetura do pró- em colaboração com o Cineclube de Guimarães
e ainda uma atividade de pendor mais comuni-
prio corpo e nas suas limitações. Nesta criação,
E MUITO MAIS o próprio corpo, curioso e perspicaz, procura e tário que dá continuidade à iniciativa “Bailar em
Igualmente apresentada no Aerowaves Spring dá a mão a um percurso prestes a ser descoberto Casa” da Casa da Memória, surgindo nesta oca-
Forward 2022 – evento promovido pela mais através do movimento, da construção, do dese- sião também no formato complementar “Bailar
importante rede europeia de apoio à dança con- nho e dos sons. Fora de Casa”.
temporânea emergente, onde se inclui o Centro O atlas proposto pelo GUIdance em 2024 desa- “Que tempo é este onde colocamos a huma-
Cultural Vila Flor como presenting partner – foi a fia-nos igualmente a conhecer o poder de “Uni- nidade no centro da dança? Um tempo onde
peça “Atlas da Boca” (8 fevereiro), dirigida e cria- Verse: A Dark Crystal Odyssey”, que marca o re- começamos finalmente a sentir, sem aceitar, o
da por Gaya de Medeiros com atuação e cocria- gresso a Guimarães e ao festival do coreógrafo e muito pouco que sabemos sobre nós próprios e
ção de Ary Zara. Nesta investigação de dois cor- diretor britânico multipremiado Wayne McGre- sobre quem nos tenta completar. É preciso pois
pos trans acerca da boca como ponto de união gor, reconhecido internacionalmente por inova- que o corpo avance e lidere uma revolução cog-
entre a palavra, a identidade e a voz, o público e ções tecnológicas e multidisciplinares pioneiras nitiva. A cartografia desta edição 13 do GUIdan-
o privado, o erotismo e a política, Gaya de Me- nas áreas da performance, que redefiniram ra- ce coloca-nos perante a possibilidade de viven-
deiros – bailarina, diretora e produtora brasileira dicalmente a dança na era moderna. Nesta ode ciar mundos surpreendentes e reveladores de
a viver desde 2019 em Portugal – discute, através contemporânea à mudança, assim apresentada contextos longínquos, ao mesmo tempo que nos
da dança, esse espaço simbólico capaz de esta- pela primeira vez em Portugal a 3 de fevereiro no aproxima de forma qualificada de obras que pro-
belecer novas narrativas, explorando os verbetes CCVF, a tecnologia imersiva de última geração curam ressignificar o presente para ganharmos
que se abrem da boca para fora e que se leem da circunda a coreografia sobre-humana, numa caminho futuro. A arte é um ponto de explosão
boca para dentro. meditação comovente e surpreendente sobre a do imaginário que o espírito empurra para um
A criação nacional encaminha holofotes para a crise climática, inspirada no clássico de culto de corpo ou para outro espírito. Tudo isto é tão mais
artista Diana Niepce e o seu espetáculo “Anda, Jim Henson (“The Dark Crystal”) sobre um pla- revolucionário quando ganha movimento. Por
Diana” (10 fevereiro). Bailarina, coreógrafa e neta doente e uma raça dividida, necessitando isso, sigamos na dança que transforma o mundo
escritora, e também professora, Diana Niepce urgentemente de cura. e empodera a humanidade que nos define.”, re-
retrata neste espetáculo a reconstrução do seu Acompanhando tudo isto, e dando continuida- mata Rui Torrinha antecipando a edição que se
“eu”, depois de uma queda (na qual ficou com de à missão de aproximar as artes e os artistas ao avizinha.
uma lesão medular), num diálogo honesto entre público, esta edição do GUIdance é fortalecida Os bilhetes para os espetáculos encontram-se
corpo e mente, entre lógica e caos, até construir com atividades paralelas como masterclasses – disponíveis por valores entre os 2 e os 10 euros,
o corpo que dança. Assim transforma o corpo experiência única de trabalho criativo que per- podendo ser adquiridos online em oficina.bol.
num instrumento de revolução, questionando mitem a bailarinos/as e alunos/as de dança de pt e presencialmente nas bilheteiras de equi-
a norma, desafiando preconceitos e ideias atra- nível avançado um contacto privilegiado com pamentos geridos pel’A Oficina como o Centro
vés da criação de novos padrões de valores es- alguns dos mais conceituados criadores inter- Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacio-
téticos, obrigando-nos a questionar sobre o que nacionais da dança contemporânea; conversas nal das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa
está para além da dança, para além do corpo. pós-espetáculo com os criadores e as compa- da Memória de Guimarães (CDMG) ou a Loja
No âmbito da programação de Educação e Me- nhias que se apresentam nesta edição; debates Oficina (LO), bem como entidades aderentes da
diação Cultural, Beatriz Valentim traz ao GUI- moderados por Claudia Galhós; visitas às escolas BOL. Esta edição contempla também a possibi-
dance o seu espetáculo “O que é um problema” de Guimarães com os artistas que fazem parte lidade de aquisição de assinaturas que garantem
(4 fevereiro). Dedicado ao público juvenil, aqui do programa do festival; ensaio aberto do espe- acesso a 2, 3 ou 4 espetáculos à escolha, com
partimos à descoberta de alternativas, num ca- táculo “Bantu” para escolas de dança; uma ofi- descontos de 20%, 30% e 40% respetivamente.
86 DEZEMBRO · 2023 #SIMatuaREVISTA