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BRAGA
De São Vicente para a Time Square
FOTOGRAFIA DE CARLOS TEIXEIRA
LEVOU O MINHO AO MUNDO
Texto: Patrícia Sousa
D o pátio da Torre de São Vicen- “É uma emoção enorme ver uma tradição tão nos- tentes da Times Square, um pedaço de Portugal
te aos ecrãs gigantes de Times
sa ali, no meio daquela luz toda”, confessa Carlos
brilhou por alguns segundos — o tempo suficiente
Square, um salto de fé, fogo e
Teixeira. O convite chegou de “forma inesperada”,
para acender a curiosidade de quem passou e, tal-
tradição. A lente de Carlos Tei-
através de uma revista de Bruxelas que acompa-
vez, despertar um sorriso. E assim, entre o fogo e o
xeira captou um instante tão
bracarense quanto universal — o
portas de Manhattan — e levou o Minho consigo.
vez — por cima do tempo e do mundo.
“Recebi uma mensagem no Instagram, de uma
gesto de saltar a fogueira. O fotógrafo bracarense nha o seu trabalho. Um simples clique abriu-lhe as ecrã, o antigo e o moderno, Braga saltou — mais uma
clicou, e o Minho ganhou bilhete para Manhattan. revista de Bruxelas que gosto muito. Disseram que
Um retrato do Minho que atravessou o Atlântico acompanhavam o meu trabalho e convidaram-me
sem perder o cheiro a castanha e brasas. Braga para participar, ao lado de fotógrafos internacio- “A Calçada Portuguesa e Outras Calçadas
aterrou em Times Square — e levou consigo o nais. Claro que disse logo que sim. Foi uma emoção de Braga” patente na Fonte do Ídolo
cheiro da fogueira, o riso do povo e o estalar das enorme”, recorda. Resultante da 22.ª edição do Concurso Mu-
brasas.
Na fotografia, há movimento, cumplicidade e uma nicipal de Fotografia, a exposição ‘A Calçada
Entre néons e arranha-céus, uma fogueira acen- alegria antiga. O salto sobre o fogo é mais do que Portuguesa e Outras Calçadas de Braga’ foi
deu-se no coração de Nova Iorque. Por alguns se- um gesto: é uma herança transmitida de geração inaugurada na Fonte do Ídolo.
gundos, Times Square cheirou a castanha assada, em geração, onde o medo se transforma em festa. Esta exposição presta homenagem a este
ouviu o eco de uma concertina imaginária e sentiu património identitário e à candidatura da
o calor do Minho. Tudo graças a uma fotografia de A Rusga de São Vicente mantém viva essa chama. arte da calçada portuguesa a Património
Carlos Teixeira, o bracarense que transformou um Todos os anos, recria o magusto à moda antiga, com Cultural Imaterial da Humanidade.
salto de fé em símbolo de cultura viva. trajes, música, castanhas espalhadas e gargalha- Promovido pelo Município de Braga, em par-
das que se misturam ao fumo. É ali, entre brasas e
A imagem — um casal a saltar a fogueira no pátio da memória, que o fotógrafo encontrou o que mais o ceria com os TUB e a Koy Lab, esta edição
do concurso contou com 50 participantes
Torre de São Vicente, durante o magusto da Rusga move — o humano, o coletivo, o instante que resiste. distribuídos por duas categorias: máquinas
de São Vicente — foi escolhida para integrar uma descartáveis e rolos fotográficos em máqui-
mostra internacional promovida pela EarthCam, Esse instante atravessou o oceano e pousou no ecrã nas próprias.
que projeta no ecrã gigante da praça nova-iorquina mais famoso do planeta. De Braga a Manhattan, do
fragmentos de vida de todo o mundo. Entre anún- som das concertinas ao ruído dos táxis amarelos, a Na inuaguração da exposição foram entre-
gues os prémios aos vencedores. Na cate-
cios luminosos e multidões apressadas, o lume de imagem atravessou o Atlântico para lembrar que a goria ‘máquinas descartáveis’ o vencedor foi
Braga brilhou como se o tempo tivesse parado. cultura não tem fronteiras. Entre as luzes intermi- Carlos Júlio da Costa Teixeira e na categoria
‘rolos fotográficos’ a distinção foi atribuída
a José Rui Moreira Serra Guimarães. Já as
menções honrosas foram entregues a Ana
Maria Miranda Ferreira de Sousa e João Pau-
lo Mendes de Oliveira.
46 NOVEMBRO · 2025 #SIMatuaREVISTA

