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ENTREVISTA



                                     DJ MOTINHA
























                                                “Quando fazemos realmente
                                               aquilo que gostamos, o sucesso
                                            acaba por acontecer, mais tarde ou

                                                             mais cedo”


                                                            Por: Marta Amaral Caldeira


               A celebrar os 35 anos de carreira, o bracaren-  slows... (risos).Nesses primeiros tempos, das   A paixão pela música já vem desde criança. Eu
               se DJ Motinha, destaca, nesta entrevista, o   festas de garagem, a verdade é que não tínha-  sempre tive contato com música de qualidade
               papel importante que no início dos anos 80 e   mos acesso a muita música e um dos recursos   porque já em casa, sobretudo com os meus tios
               90 era assumido pelo disco-jockey enquanto   que usávamos era gravarmos em cassete os pro-  faziam-se muitas festas e, também, pelo fato de o
               educador do gosto musical do público. Con-  gramas de rádio e, assim, podermos passar os   meu pai ter estado envolvido na organização de
               siderando estas décadas como exemplares   novos estilos de música que estavam na berra   festivais da canção no Theatro Circo de Braga,
               em termos de produções musicais, o DJ traça   no estrangeiro. As primeiras misturas musicais   lembro-me de alguns até no Estádio 1.º de Maio.
               um “balanço positivo” da sua atividade pro-  foram, de fato, realizadas com cassetes: eu tinha   A ‘moda’ dos DJ’s surgiu nos finais dos anos 70,
               fissional e relata o amor que tem à música   um gravador portátil da Grunding e com essas   início dos anos 80. Eu como gostava muito de
               como tónica da sua experiência de vida.   gravações em cassete conseguíamos alterar   música, todo o dinheiro que juntava era, preci-
                                                    a rotação (velocidade) de forma a podermos   samente, para comprar singles, designadamen-
                                                    acertar a batida da música de uma cassete com a   te os singles de ‘7 polegadas’ e os vinis.
               Quem é o ‘DJ Motinha’?               de outra. O acesso às boas ferramentas era muito   Depois do vinil, veio a moda dos CD. Lembra-
                                                    difícil porque os custos eram, realmente, muito
               Nasci em Braga, a 21 de Janeiro de 1969, na fre-  elevados. Por exemplo, os pratos technics só   -se do primeiro CD que comprou?
               guesia de São Vicente. Tenho 55 anos e encon-  aparecem no mercado nos anos 80 e lembro-me
               tro-me a celebrar, neste momento, os 35 anos   que um destes pratos custava, na época, 2500   Sim. Foi do Galliano: A Joyful Noise Unto The
               de carreira enquanto disco-jockey. Defino-me   euros. Hoje em dia, pouco mais custa. E, mesmo   Creator.
               essencialmente como “um rico homem” e não   nas primeiras discotecas que abriram, na altura,   Quando começou a comprar os  primeiros
               “um homem rico”, mas quem me conhece sabe   nem sequer tinham desses pratos mais profissio-  singles e vinis, o que é que selecionava para
               que sou amigo do meu amigo.                                               depois passar nas suas atuações?
                                                    nais para os DJ’s trabalharem. Em 1999 animei o
               Que balanço faz destes 35 anos dedicados   primeiro casamento e deixei de trabalhar como   Lembro-me,  por  exemplo,  que  as  minhas  tias
               exclusivamente à música?             disco-jockey residente nas discotecas em 2002,   tinham o single do Patrick Hernandez: o Born to
                                                    também porque se tornou uma atividade eco-  Be Alive e eu gostava muito desse estilo musical
               O balanço que faço da minha atividade é muito   nomicamente mais rentável. Na verdade, nunca   e  também  queria comprar  para mim. Eram as
               positivo, primeiro porque esta é, de fato, a minha   pensei que algum dia pudesse tornar-me um DJ   músicas  dos  anos  80  e  essa  foi,  de  fato,  uma
               única atividade profissional. Eu considero 35   profissional e a fazer desta atividade a minha pro-  geração de artistas que marcou muito a música
               anos de carreira porque foi precisamente há   fissão, mas, de fato, foi possível e julgo que isso   no mundo inteiro e, tanto assim é, que ainda, hoje,
               35 anos que comecei a vingar como disco-joc-  prova, também, que quando fazemos realmente   são músicas que continuamos a ouvir. Foi uma
               key, embora eu, na realidade, já tivesse começa-  aquilo que gostamos, o sucesso acaba por acon-  década de ouro para a música, em várias verten-
               do muito antes, a animar as festas de garagem,   tecer, mais tarde ou mais cedo.   tes, desde a música soul, disco, funky, new wave,
               junto com amigos, em que reuníamos os discos                              pop,  pop rock,  etc.  Foi realmente  uma  época
               que cada um possuía e dinamizávamos os saraus   Como começou se começou a interessar por   riquíssima em termos de evolução da música, em
               que duravam a tarde toda e que incluíam muitos   música e, mais especificamente, pela profis-  que grandes bandas e artistas fizeram história.
                                                    são de DJ?


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